terça-feira, 2 de abril de 2013

Opinião - A Scanner Darkly de Philip K. Dick


A Scanner Darkly de Philip K. Dick foi um livro que me deu grande prazer ler.

A historia inicia-se num tom de paranóia que irá estender-se por todo o livro. No primeiro capitulo temos uma amostra dos efeitos de uma droga chamada Substancia D, o D refere-se a Death (Morte em Inglês).

Todos os departamentos das autoridade, quer locais quer federais e mesmo do governo, estão (provavelmente) minados pelo produtores da droga e para combater estes flagelos, a droga e os infiltrados, aos agentes infiltrados é dado um aparelho que lhes permite ocultar a sua identidade de todos, mesmo dos seus superiores. É então que se dá o paradoxo de Fred, nome de código pelo qual responde, no decorrer da sua actividade de agente infiltrado, passar a investigar um traficante de droga chamado  Bob Arctor, que é nem mais nem menos que ele próprio. Não pode simplesmente dizer aos seus superiores quem ele é, portanto segue com as ordens, mas fossem as coisas assim tão simples...
O caso complica-se porque no seu papel de drogado ele vai mais longe e torna-se o objecto que deveria investigar: um drogado viciado em Substancia D. A Substancia D é uma droga que como tantas outras é mais terrível, não pelas mortes que causa, mas pelas sequelas que deixa, seja elas físicas, mas principalmente nas psicológicas (e/ou emocionais como preferirem) quer nos drogados quer nos que lhes são próximos. E é esta uma das principais, se não mesmo a principal mensagem do livro; todas as nossas decisões tem consequências.
Vamos assistindo a um homem que, sob o efeito da droga, se vai tornando duas pessoas independentes: Fred o homem da lei que vigia e Bob Arctor o drogado que é vigiado. É uma situação cómico-trágica com ênfase na tragédia.
É um livro magnificamente escrito que sem cenas de acção vive de grandes momentos de drama psicológico, mas sem que se notem de imediato, aliás as vezes parecem cenas quase sem sentido, mas o sentido está lá, acreditem e ao longo do tempo vai-se "entranhando". Fui pensando no que ia lendo e comecei a ver, mais uma vez, a grandiosidade do Philip K. Dick.

A minha edição tinha no final uma nota do autor que "ilumina" ainda mais o significado deste livro, e que me fez pensar ainda mais sobre o que tinha lido e me fez adorar ainda mais este livro em que ele faz uma homenagem aos seus amigos, o que morreram e os que ficaram incapacitados pelas drogas.

Este é um livro de Ficção Científica, mas apenas a utiliza para  dar realce a alguns aspectos, não vive dela. Classifica-lo também poderá revelar-se complexo, pois se a classificação geral de Ficção Científica não deixa duvidas, ir um pouco mais além e coloca-lo numa da inúmeras sub-categorias já é mais complicado, mas um Distopia não me soa mal, mas deixa espaço para outras, mas isto sou que gosto de "arrumar". No fundo o que interessa é se o livro é bom e este é excelente.
A Scanner Darkly de Philip K. Dick é mais do que uma mera historia, é uma confissão, um desabafo e uma homenagem.

Felizmente chegou a existir uma edição em Português com o titulo "O Homem Duplo" na colecção Argonauta, n.º 316, da editora Livros do Brasil. Infelizmente à muito esgotada e apenas existem em algum alfarrabista.
Capa da edição Portuguesa: O Homem Duplo

Mais recentemente este livro teve direito a ser incluído na colecção SF Masterworks.





Este livro teve direito a uma adaptação em 2006 com um elenco bastante bom, com actores como Keanu Reeves, no papel principal, Robert Downey Jr., Woody Harrelson e Winona Ryder. Podem ler no blog Viagem a Andromeda a opinião do João Campos, e ver o trailer de A Scanner Darkly.

Podem encontrar mais algumas informações sobre o livro na paginas da Wikipédia aqui em inglês.




6 comentários:

  1. Olá Marco,

    Embora ainda tenha aqui alguns livros do escritor, apenas ainda tive a oportunidade de ler o Homem do Castelo e embora reconheça ser um livro com muita qualidade e nos mostre uma prespetiva bem diferente do que poderia ter acontecido não foi daqueles livros que me enche-se as medidas, muito pela falta de ação.

    Penso que isso é algo que acontece neste livro, ainda por cima muito difícil de encontrar, arriscava se encontrasse da Argonauta, mas pelo que percebo é um livro muito interessante e bastante complexo.

    Quem sabe ainda me convenças a le-lo, nada como divulgar estes pequenos diamantes que muitas vezes e sem que se saiba estão a preços super acessíveis ;)

    Bom comentário, continua

    Abaço

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  2. Amigo Fiacha existem livros (e historias) que não vivem de cenas de acção, dos melhores livros que tenho lido, como este, a acção (quase) nem existe. É um livro que foi escrito para nos fazer pensar.

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  3. Grande autor!
    Dele li quase toda a obra, mas tenho um carinho muito especial por Ubik. Esta obra marcou-me muito na adolescência, e depois já mais adulto quando da morte do meu irmão... era um dos nossos preferidos, e definitivamente o preferido dele. Ainda hoje guardo religiosamente essa edição...

    Abraço

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  4. Li o Ubik na edição da Presença, mas na altura ainda era muito "verde" nisto da FC e apesar de ter gostado não terei apreciado a obra como hoje o faria. Hoje em dia cada vez que leio uma obra do Dick cresce o desejo de ler todas aqueles livros que Presença editou e que hoje serão com certeza bem mais apreciados.

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  5. Os meus são todos da Argonauta e FC Europa-América!
    ;)

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  6. Apesar de agora os estar a coleccionar, falhei essa "era de ouro", em parte pela idade, mas mais pela falta de conhecimento. A minha década de 1990 foi dedicada quase em exclusivo à BD ;)

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