quinta-feira, 29 de junho de 2017

Opinião - À Hóme! de Joel G. Gomes



À Hóme! do Joel G. Gomes é um conto que mistura Ficção Científica e Comédia. O personagem principal é um português artificial: o andróide Tuga 2.3 (embora fabricado em Espanha). Um andróide que pretender emular o "típico" português num futuro (daqui a pouco mais de cem anos) em que uma praga dizimou (praticamente) toda a população da Península Ibérica. A história começa com uma perseguição ao 2172/3A1722l, ou 2172L para os amigos (se ele os tivesse), pelas ruas de Alfama. Depois de uma tentativa gorada de fuga e de uma épica e cómica tentativa de dissuasão dos seus perseguidores, que nunca chegamos a saber quem são ou o que pretendem, 2172L vê-se encurralado. Entre uma miríade de cenários em que "imagina" o que os seus perseguidores lhe farão e um fenómeno, na forma de uma barreira, que apenas os andróides conseguem ver e sem que saiba o que lhe possa acontecer ao atravessa-la, ele acaba por optar por esta última opção. Ao transpor a barreira acaba por vir parar à Alfama dos nossos dias, bem ao ano 2023 para ser exacto. Aqui passa por uma série de peripécias sempre tendo como pano de fundo aquilo que temos como a caricatura do que é ser português, seja mulher, mas principalmente homem.

Gostei de certas partes, de outras... nem por isso. Gostei das partes humorísticas, (há pessoas que são um bom garfo eu estou perpetuadamente pronto para uma boa gargalhada). Mesmo sendo baseado num cliché o Joel deu-lhe uma "voltinha" que achei interessante. Ficaram algumas perguntas no ar como por exemplo quem e porque é que foram criados estes andróides, ou porque raio é que haveriam de vir turistas depois do que aconteceu (embora esta seja mais fácil de responder: existem pessoas malucas em todo o lado e em todos os tempos). Ao longo do conto o autor foi deixando pistas de que me levam a concluir que este conto funciona em loop, ou seja o que aconteceu no passado vai influenciar o que se vai passar no futuro que por sua vez vai influenciar o que se passou no passado (parece confuso e é, mas eu já tenho "calo" nestas coisas).

E por fim o final. Achei que destoa do tom que o autor impôs ao resto do conto, ou seja, todo o conto é cómico e de repente o final assume um tom sério, como os filmes do Exterminador Implacável. Faltou aquilo a que no mundo humorístico se apelida de punchline (aquela piada que dá sentido(?) a todo) e que, penso eu, tinha ficado melhor e mais condizente com o tom do resto do conto.

Se ficaram curiosos podem seguir o link e encontrar na página do autor as várias lojas em que podem encontrar este conto: À Hóme de Joel G. Gomes e e outros trabalhos do autor.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Tirar, começar e não acabar ou a história de leituras inacabadas

A quem é que nunca aconteceu deixar um livro a meio? Já terá acontecido a todos nós pelo menos uma vez e eu não sou excepção. Alguns leitores deixam as suas leituras a meio porque o livro em questão não desperta a sua atenção, a sua curiosidade o suficiente ou porque esperavam algo mais e preferem não perder o seu tempo com algo que, à partida, não os vai satisfazer e seguem para outro livro que esperam ser (muito) melhor. Parte de mim admira e reconhece alguma coragem nesse acto embora confesse que não me lembro de ter deixado algum livro a meio por esse motivo. Já tenho lido livros que à partida sei que não são grande coisa, mas consigo lê-los facilmente, por norma o único desafio é ultrapassar  o aborrecimento de um livro previsível e insípido. Já agora para todos os que se estão a perguntar o porquê de eu ler livros que à partida sei serem maus? São livros que chegaram aos tops (ninguém sabe como), como a saga Twilight da Stephenie Meyer, e para poder falar com propriedade tenho de os ler. Eu sei, eu sei, mas alguém tem de o fazer.

Mas existem outras razões para se deixar um livro a meio. As dinâmicas das nossas vidas pessoais, sociais e profissionais também podem influenciar a leitura (ou não) de um livro.

Eis que chegamos ao que me levou a escrever este texto e que é a principal razão que me leva a deixar (embora temporariamente) a leitura de um livro: não estar preparado para o mesmo. É uma razão que não se vê muitas vezes a ser assumida e discutida, mas acredito que tal como eu também outros leitores o fazem por esta razão. Ninguém gosta de admitir que não percebeu o que estava a ler. Não serão muitos os leitores que gostam de reconhecer, quer a si quer aos seus pares, a sua ignorância. Na Ficção Científica, por exemplo e especialmente na chamada Hard Scifi, é algo que acontece amiúde, como os seus estranhos conceitos e tecnologias que baralham e afastam a grande maioria dos leitores. Para leitores iniciantes poderá ser um mau local para começar precisamente por isto, mas afasto-me do tópico. 

Neste aspecto houve uma colecção que me marcou: Viajantes do Tempo da editora Presença. Hoje uma colecção morta e (quase) enterrada, foi a minha porta de entrada para a Ficção Científica e como tal também a minha primeira fonte de frustrações e livros deixados para trás (embora hoje possa dizer com orgulho que já os li a todos). Alguns li-os até ao fim, como os livros do Philip K. Dick ou da Ursula K. Le Guin, mas acredito que nunca os compreendi totalmente, e alguns tive mesmo de os deixar. Não são poucas as vezes em que olho para eles e desejo voltar a lê-los novamente, para, agora já mais maduro quer na idade quer na experiência literária adquirida, os poder verdadeiramente apreciar, mas divago novamente.



Dos livros que tive de deixar a meio, embora logo ao inicio seja mais correcto, pelas razão acima descritas encontram-se o livro de Neal Stephenson “Samurai: Nome de Código” (Snowcrash) um dos grandes e icónicos livros do Cyberpunk (e o primeiro da colecção), do Bruce Sterling “Schismatrix – O Mundo Pós-Humano” (Schismatrix Plus) e a trilogia de John C. Wright constituída por “A Idade de Ouro” (The Golden Age), “A Fénix Exultante” (The Phoenix Exultant) e “A Grande Transcendência” (The Golden Transcendence). Todos livros que mal os comecei a ler coloquei-os de lado. O livro do Bruce Sterling ainda lhe peguei duas ou três vezes naquela altura, mas com o mesmo resultado. Não foram apenas estes claro, houve mais alguns, mas estes ficaram-me na memoria.




Foram precisos mais de dez anos para lhes pegar novamente e os ler, mais de dez anos a educar o meu “palato literário” e que irá continuar a ser educado até ao dia em que morrer. Quando os li, e apesar de ainda ter muito a aprender, consegui não só lê-los como também apreciar as belas obras que são e que merecem uma releitura e quem sabe se um dia não o farei.




E agora revelo que existe mais um livro que vai para este lista: Galxmente do Luís Filipe Silva. Era suposto ter sido a minha primeira leitura do ano e em boa verdade foi com ele que logo no dia Um comecei, lendo as primeiras páginas, mas foi sol de pouca dura pois apesar de toda a minha vontade não consegui prosseguir com a leitura. O livro não foi para a estante, ficou na mesa de centro da sala, onde estão as minha futuras leituras, como uma lembrança das minha “obrigações”. Há cerca de dois meses voltei a tentar. É certo que consegui avançar mais do que da primeira vez, mas o resultado foi o mesmo. Neste caso não foi a falta de conhecimentos que me deixou “pendurado”, mas antes a “dinâmica”, leia-se uma falta de disponibilidade mental para o conseguir ler. Apesar de toda a minha curiosidade em ler este clássico da Ficção Científica Portuguesa, e ao fim de duas tentativas goradas acabei por “devolver” o livro à estante na esperança de um dia, mais cedo do que tarde, possa voltar a pegar nele e lê-lo de fio a pavio com a atenção e dedicação que merece. Não culpo o livro, nem este nem os outros que não consegui ler à primeira, ou mesmo à segunda tentativa, aliás não culpo ninguém nem nada, são momentos e fases da vida e como tal não vale a pena andar a martirizar-me ou a tentar arranjar desculpas esfarrapadas culpando o autor ou o livro ou o que seja. O segredo é não levar a situação demasiado a sério. Já aconteceu antes e certamente voltará a acontecer e de todas as vezes e sabendo de antemão que os livros valiam a pena voltei a eles mais sapiente e mais calmo e pude aprecia-los. Com este tenho a certeza que também assim será. 

domingo, 18 de junho de 2017

Lançamento de As Nuvens de Hamburgo de Pedro Cipriano

Hoje é um dia que certamente ficará na História pelas piores razões devido aos infelizes acontecimentos em Pedrogão Grande. Mas este é também um dia que ficará na memoria, mas pelas melhores razões, de todos quantos assistiram ao lançamento, na Biblioteca Municipal de Vagos, do livro "As Nuvens de Hamburgo" do Pedro Cipriano

O Autor e o estreante 


À hora certa lá estava eu para apresentação de "As Nuvens de Hamburgo" e não foi sem alguma surpresa que o Pedro, que conheci pessoalmente hoje, me convidou para me sentar à mesa dos "graúdos". Já tínhamos falado da minha "disponibilidade" (dito assim até pareço um tipo importante o que não é o caso) em apresentar o livro, mas não tinha ficado nada decidido. Aceitei, mas nunca tinha feito nada disto na vida e não escondo que estava algo nervoso por ter de falar em público. Felizmente correu tudo bem, ou pelo menos tão bem quando seria de esperar para um estreante: não gaguejei (muito) e tive um discurso relativamente coerente e igualmente importante consegui manter-me (quase sempre) centrado no livro, embora não tenha conseguido evitar alguns desvios, mas consegui sempre voltar (quando não fui "arrastado) ao livro. Foi agradável falar do livro, que como sabem foi uma leitura da qual gostei bastante, e poder elogiar o autor cara a cara. Foi como um conversa de onde saímos mais ricos com o que aprendemos. Fiquei saber um pouco mais sobre o que esteve por detrás do livro, as motivações e inspirações, enfim aqueles pequenos, mas importantes pormenores, que acabam por dar mais vida à história.

O leitor, o livro e o autor

Foi uma tarde bem passada em que tive o privilegio de conhecer não só um excelente autor, mas também outras pessoas igualmente simpáticas e talentosas e com quem espero novamente privar "ao vivo e a cores" num futuro próximo. 

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Opinião - As Nuvens de Hamburgo de Pedro Cipriano




Marta é uma estudante de História que vai para a cidade de Hamburgo na Alemanha, integrada no programa Erasmus, mas algo de estranho se passa pois ainda não desfez a mala quando observa da janela do seu quarto algo não deveria ver: bandeiras com a cruz suástica a adejar ao vento, mas tal é impossível! Não é? E com um piscar de olhos elas desaparecem... É assim que começa esta novela do Pedro Cipriano onde vamos acompanhar a Marta não só na sua aventura em que irá questionar a sua sanidade, mas também a sua atribulada vida pessoal. Desde a sua relação, extremamente atribulada, com os pais, que nunca viram com bons olhos a sua escolha de curso e muito menos a sua ida para outro país, passando pelos poucos amigos que consegue fazer, também eles estudantes de Erasmus, enquanto se adapta a uma nova cidade e a uma nova língua, tudo pormenores que ajudam a dar profundidade à personagem e a criar ligação com o leitor. Mas o foco da história são mesmo as suas alucinações (serão mesmo?) onde Marta é transportada para os dias da Segunda Grande Guerra. É fascinante vê-la a debater-se com esta situação peculiar, questionando a sua sanidade e como poderá separar as suas alucinações da realidade. Ao inicio as transições são tão confusas para a personagem principal como para o leitor, pelo menos para mim foram. Não se foi algo que saiu naturalmente ao autor ou se foi meticulosamente planeado, mas tenha sido uma ou outra a verdade é que isso resulta numa maior afinidade entre o leitor e a história, pois nós (os leitores) ficamos tão confusos como a personagem principal e com ela vamos descobrindo o que se está a passar e viver as angustias e prazeres desta nova fase na sua vida.

Foram duas as horas que demorei a devorar este livro, porque depois de começar não consegui parar de lê-lo. É uma história que puxar pelo leitor. 

O que faz deste um excelente livro? As personagens palpáveis e a capacidade em ter integrado tudo numa história real apesar da sua inegável faceta Fantástica. 

Uma nota final. Em Setembro de dois mil e treze dei a minha opinião sobre a Compilação de contos da Era Dourada e escrevei que "o Pedro deve rever e aperfeiçoar a construção das personagens e aos finais um segundo olhar para que sejam mais verosímeis, pois senti algumas reticencias ai" foi pois com prazer que eu vi que ele fez exactamente isso e esta história prova-o sem margem para dúvidas. Ninguém é perfeito, mas o Pedro mostra que com (muito) trabalho se consegue progredir na direcção correcta. Espero que ele continue a mostra os seu talento.


O lançamento vai ocorreu este Domingo dia dezoito na Biblioteca Municipal de Vagos pelas quinze horas. Para quem não conseguir comparecer irá também ocorrer o lançamento em Lisboa em data e local a anunciar. 


Para quem quiser ler a sinopse e mais importante fazer a reserva do livro é só seguir o link: Pré-venda "As Nuvens de Hamburgo"