quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Não gosto de ler


Existem muitas pessoas que não gostam de ler e evocam as mais variadas razões para tal. Uma das mais evocadas é o “trauma” das leituras obrigatorias na escola, de livros como “Os Maias” de Eça de Queiroz, ou “O Memorial do Convento” de José Saramago. Tenho alguma “simpatia” por esta razão, que advem de também eu não ter gostado de ler os livros que me “calharam na rifa” no meu tempo. “Os Maias” foram um suplicio e não passei do terceiro capitulo, tal a monotomia que o livro provocou em mim, mas depois de ler a sebenta, e os apontamentos gostei bastante da historia, achei muito “fixe”, como se dizia naqueles dias. O porquê de muito boa gente não gostar de ler estes livros obrigatorios, com e sem aspas, deve-se ao facto de muitas vezes faltar preparação. Uma boa parte de nós foi simplesmente lançado as feras, sem praticamente ter lido nada anteriormente. Quem lia regularmente? Muito poucos, pelo menos no meu tempo. Hoje, pela experiencia que tenho, a situação parece-me melhor. Os pais estão mais concientes e já incentivam a leitura e são mais participativos, nos meus dias uma das frases que eu mais ouvia era “Estudar é o teu trabalho”, e pronto, eramos os responsaveis por nós proprios, uns mais que outros claro.

Todo este passeio pela avenida da memoria a proposito de uma conversa com uma pessoa minha conhecida e a quem eu, inevitavelmente, perguntei se li e o quê. A resposta que me foi dada foi um despretencioso “Não gosto de ler”. Já ouvi esta resposta antes, e tenho a certeza que, infelizmente, a voltarei a ouvir, mas desta vez foi algo diferente, pela “simples” razão da pessoa em questão trabalhar no ensino pré-escolar e em breve pretender ingressar no ensino superior para obter mais qualificações no mesmo ramo, e ainda bem, claro.

O problema, sem aspas, é que estamos a falar de alguém que vai formar as proximas gerações no inicio da sua vida, numa fase crucial. Ora como é que se pode transmitir o gosto pela leitura quando se desconhece esse prazer? Como pode um professor (ou similar) despertar a paixão pela leitura se não lê?


P.S.: Apesar de começar por um exemplo concreto, não faltam outros iguais ou parecidos por esse Pais fora, infelizmente.

4 comentários:

  1. Boas! Tive que vir deixar o meu bitaite, não resisti. :)

    Ora, eu até posso ser um caso raro (duvido...) mas eu, desde tenra idade e sem grande força dos meus pais, lia bastante - e leio. Isto para me vangloriar, claro x) mas também para referir que, na minha opinião, casos como os referidos - Maias, Memorial, etc - são livros 'díficeis' na medida em que têm um ritmo bastante lento e como tal pouco apelativos à malta jovem.

    Eu lia bastante e não passei da página 18 dos Maias! Isto tudo para dizer que talvez a educação ganharia mais se oferecesse aos pupilos livros que os entusiasmasse.

    Defendo como é lógico que os clássicos devem ser lidos mas por escolha e não por obrigação até porque perdemos dessa forma a contemplação que esses livros nos podem oferecer.

    Por outro lado, concordo que assuste que os professores não tenham as ferramentas necessárias para incutir desde cedo o gosto pela leitura. Mas, como dizia aos prof's, eu leio em casa e não na escola!x)

    Abraço

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  2. Ois pessoal,

    Penso que atualmente as escolas já têm bibliotecas com livros como o Eragon e outros que fazem com que os jovens leiam mais.

    Eu por acaso nunca fui muito de ler, nas aulas andava a dormir e nos intervalos queria era namorar e jogar a bola LOL

    Abraço

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  3. Em primeiro bem-vindo Sor Flavius espero que não resistas a dar os teus bitaites mais vezes ;)

    Em segundo é com gosto que informo que a pessoa que me inspirou a escrever este texto, quando esteve cá em casa andou a ver a minha biblioteca e parece ter-se enamorado por um livro, não é do nosso "campeonato", mas o que interessa é que goste e continue a ler.

    Quanto ao teu caso Sor, eu acho que és um caso, não raro, mas ainda assim não tão comum, pelo menos em relação aos meus tempos de adolescente. Quando li o teu comentário lembrei-me de um amigo com quem eu tinha longas conversas enquanto esperávamos pelo autocarro, e a espera era bem longa. Numa dessas conversas ele "confessou-me" que os seus pais nunca o tinham "puxado" para o estudo e leituras, ao contrario de muitos outros colegas. Eu ainda ia lendo qualquer coisita, principalmente BD, já estudar... Bem digamos que era inteligente para ir passando.

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  4. Olá a todos:

    Bom, a maior parte das bibliotecas das escolas, pelo menos daquela onde fui professor durante longos anos, eram totalmente incapazes de adquirir qualquer coisa de diferente. Livros, policiais, thrillers, Fc, antigos pulp, tipo Julio Verne e Emilio Salgari, nem pensar. Quanto a comics, ainda menos. Isto porque os professores responsáveis pelo orçamento já de si limitado para a aquisição de novos livros, não faziam a mais pequena ideia do que haveriam de escolher, porque...bom, porque também eles passavam meses e meses sem ler um único livrinho que fosse...ultimamente apoiaram-se no sinistro Plano Nacional de Leitura e escolheram os livros que por lá eram recomendados...assim o espaço nas estantes foi-se enchendo de Saramagos, Alices Vieiras e Isabeis Alçadas. Livros que os miúdos eram obrigados a ler, quase à força e sem proveito para ninguém. Por iniciativa deles, não requisitavam um único livro que fosse, pois ali nas estantes só havia Eças, Herculanos, Garrettes e Ferreira de Castros. A biblioteca só era visitada por aqueles que iam aos computadores ver o youtube ou as redes sociais. Quando estas foram "bloqueadas", o sentido da biblioteca desapareceu. A biblioteca transformou-se em algo de absolutamente morto. É um vazio terrível. Ainda há pouco descobri, em aulas de adultos, que já ninguém sabia quem era o Tintin. E que nem sequer conseguiam compreender a lógica que ligava um quadradinho a outro. Quando trouxe para as aulas comics como o Red Star, olharam para mim com o mais absoluto ar de enfado.
    Resumindo: a população escolar deixou de ler, de falar sobre livros, porque tudo o que tivesse a ver com esse assunto, era imediatamente ligado às secas do Eça e, oh desgraça, da Agostina e do Saramago.
    É impossivel obrigar alguém a ter gosto pela leitura. Esse gosto deriva de um programa neuronal que desperta aos seis anos de idade e que morre pouco depois se não for devidamente estimulado. Ora os pais destes alunos nunca leram fosse o que fosse. Os miudos cresceram em casas onde não havia um único livro e onde a BD era considerada como uma forma de alienação entre as classes mais favorecidas contaminadas pelo espírito do eduquês. Não podemos crescer num vazio.

    Felizmente, quando eu andava na escola, aprendi Inglês com uma professora excelente, que nos levou a ler H.G. Wells, Kipling, Agatha Christie, romances de espionagem, e histórias da 2 Guerra Mundial. Mais tarde, os manuais do 6 e 7 ano eram compilações gigantescas com todos os autores ingleses e americanos que era possível imaginar. Bastou-me começar por aí e começar a procurar livros dos meus autores favoritos. Hoje, os alunos não são estimulados a ler, ou porque já é demasiado tarde e o programa encerrou, transformando todo o prazer da leitura numa profunda chatice, ou porque os próprios professores também detestam a leitura e só promovem aquilo que é o mais politicamente correcto. Infelizmente não é verdade. As bibliotecas das escolas estão todas cheias de...vazio...também que tipos de livros vão elas comprar? As Mayers?

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