domingo, 28 de agosto de 2016

Opinião (BD) - Valentina de Guido Crepax



Existem livros para os quais não estamos preparados. Existem várias razões para isso. Uma é simplesmente não gostarmos, outra, talvez a principal, são as lacunas nos nossos conhecimentos o que nos impede de desfrutar na totalidade de uma obra.



Não sei qual foi a razão, mas a verdade é que não apreciei a "Valentina" de Guido Crepax. Gostei da Arte (a preto e branco). Sem ser exuberante cumpre, principalmente no que às formas femininas diz respeito, isto apesar de, e como é referido no prefácio de outro grande autor António Altarriba, Guido Crepax sempre ter negado que "Valentina" era uma BD erótica. Apenas posso tentar imaginar como seria uma série de BD erótica que ele quisesse fazer.
Talvez tenha sido o argumento (aparentemente) escrito sob o efeito de (muito) LSD, ou a original sequenciação das vinhetas que não obedece a nenhum padrão que eu conheça e que tornou a leitura confusa e (quase) impossível. Chegou o momento em que eu já só ia virando as páginas e (tentava) apreciar a arte, porque da história já tinha desistido. 



Talvez daqui a uns anos volte a pegar na "Valentina" de Guido Crepax e consiga apreciar quer as formas quer o conteúdo.



PS: Como sempre, nada como avaliarem por vós mesmos. Porque o lixo de um homem é a riqueza de outro.

Titulo: Valentina
Autor: Guido Crepax
Colecção - Novela Gráfica (vol. 2) n.º 9 
Editora: Levoir / Público
Tradução: José de Freitas - João Miguel Lameiras

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Opinião - A Esposa Minúscula de Andrew Kaufman



Diz o ditado que as pessoas não se medem aos palmos e o mesmo se pode dizer dos livros. Um bom exemplo disso é este "A Esposa Minúscula" de Andrew Kaufman com meras cento e vinte páginas, uma descomunal letra de medida doze (ainda por cima com muitas paginas ilustradas) e um tamanho que rivaliza com os livros de bolso (já vi livros de bolso maiores). Mas se o seu aspecto exterior é pequeno o que está lá dentro extravasa largamente a "embalagem" em que vem contido. A  história é peculiar, mas deixou-me (logo) curioso, mas nada como lerem a sinopse para julgarem:

"Um ladrão entra por um banco dentro armado com uma pistola pronta a disparar, mas não pede dinheiro. Em vez disso, exige a cada cliente o objeto que tenha para si maior significado. O ladrão parte e todas as vítimas do assalto sobrevivem, mas coisas estranhas começam a suceder-lhes pouco depois: a tatuagem de uma sobrevivente salta-lhe do tornozelo e persegue-a; outra acorda e descobre que é feita de rebuçado; e Stacey Hinterland descobre que encolhe, gradualmente, um pouco a cada dia que passa, e nada que o marido ou o filho possam fazer conseguirá inverter o processo. A Esposa Minúscula é uma fábula sobre como podemos perder-nos nas circunstâncias e encontrar-nos no amor de outra pessoa."


Pois é não é um convencional livro de Fantasia e só isso já me deixa curioso, mas se uma boa ideia é meio caminho para me prender foi a capacidade do seu autor para contar esta historia que me deixou rendido. O narrador é o marido de uma das vitimas deste (no mínimo) invulgar assalto. É através do seu conhecimento em "segunda mão", pois ele não estava presente no assalto e nem o presenciou de longe, o que ele transmite é o que a esposa sabe e lhe conta, que vamos descobrir as consequências deste singular assalto.
O que me marcou foi a mistura graciosa entre o quotidiano de uma vida como a que qualquer um de nós leva e o fantástico das situações que se vão sucedendo, como ter uma tatuagem de um leão que de repente ganha vida e nós persegue, e esta nem é a mais estranha...
Como será óbvio ficamos com a vontade de saber mais pormenores, como quem é o assaltante por exemplo, mas este sentimento não é diferente de ler uma livro de mil paginas, o leitor curioso quer saber sempre mais.
Existem livros que devido ao seu tamanho (mas não só) demoram bastante tempo a ler, mas dos quais nos esquecemos (quase) logo a seguir. "A Esposa Minúscula" de Andrew Kaufman é um excelente exemplo de uma leitura que se faz rapidamente (cerca de uma hora, hora e meia), mas que fica connosco muito para lá disso, e isso diz muito de um livro. Até a minha esposa, que é um pouco avessa ao Fantástico leu e gostou (muito) e este é o melhor elogio que posso fazer a um livro, mostrar que ele transcende o género em que nasceu e agrada a uma miríade de leitores. Portanto aventurem-se também.


Título - A Esposa Minúscula
Autor - Andrew Kaufman
Colecção - Bang! n.º 225
Editora - Saída de Emergência
Tradutor - Renato Carreira