UM ERRO DE CASTING
Por vezes, acontece.
No fim de dezembro, "A Menina dos Doces" foi o livro mais votado para lermos em conjunto em janeiro.
Porém, o livro revelou-se não ser digno do Clube Good Books. Após leituras tão relevantes para o século XXI, como "Inferior" de Angela Saini e "Rapariga, Mulher, Outra" de Bernardine Evaristo, a linguagem misógina não é tolerada no Clube da Livraria.
Não existem "dramas femininos". Um relacionamento passivo-agressivo não é saudável. O peer pressure é tóxico.
A Livraria Good Books não tolera esta linguagem nem comportamentos deste género das personagens quando não têm o objetivo de serem abordados com respeito e seriedade.
Lamento profundamente o erro de casting. Creio que não minto quando digo que todos nós estávamos a torcer por mais um livro 100% português, especialmente numa época em que vemos pouca diversidade nacional nos nossos livros.
A Livraria Good Books tem como objetivo dar a conhecer livros e autores que passariam despercebidos e proporcionar uma boa experiência de leitura. Sendo uma livraria independente, há essa liberdade na escolha do catálogo.
Podia não ter mencionado o assunto e fingido esquecer o assunto, mas vivemos na era em que estes comportamentos desiguais, machistas e tóxicos não são tolerados.
Fica a mensagem: a Livraria Good Books está atenta e não compactua com tais livros.
"A Menina dos Doces" será retirado do catálogo no fim do mês e não será possível fazer encomendas futuras deste livro na Livraria Good Books.
Cada um tem direito à sua opinião. Este é um dos pilares da nossa sociedade. Não é porque a maioria gosta de Harry Potter, Star Wars ou outro qualquer livro, filme ou o que seja que reúna um consenso alargado que todos temos de gostar e isso é perfeitamente normal. Eu não sou excepção, são vários os livros, por exemplo, que agradam a uma maioria, mas que eu não gosto e vivo bem com isso e espero que a minha posição seja respeitada tal como respeito a dos outros. E se alguma vez, como já aconteceu, discutir as diferenças de opinião com alguém é com prazer que o faço, dentro do civismo que naturalmente se espera, e as vezes lá convencemos ou somos convencidos, mas isso só acontece quando estamos dispostos a ouvir o outro lado e claro a argumentar e fundamentar de modo serio as nossas opiniões.
O problema não é ter uma opinião diferente, o problema é acusar alguém de misoginia e não fundamentar essa acusação. Uma acusação que eu considero extremamente grave, e pior nem querer ouvir o outro lado, mas foi isso que aconteceu.
As acusações foram feitas na página de Instagram da Livraria Good Books e o texto é o que se pode ler acima. Li o livro antes (podem ler aqui a minha opinião) e discuti a questão com a minha esposa (que tinha lido o livro primeiro que eu) e a conclusão foi a mesma: onde estava a "linguagem misógina"? Eu não a vi e a minha esposa também não, assim como outras pessoas que já vieram manifestar a sua discordância desta acusação já para não falar das quatorze mulheres que foram leitoras beta do livro e a sua editora, a Raquel Vicente. Está acusação não só é muito grave como pode destruir a vida de uma pessoa e não pode ser feita modo leviano.
Mas onde está a fundamentação para tão grave acusação? O texto, que assumo foi escrito pela Ana Teresa Barreiros, a CEO da Livraria Good Books, tem muitas verdades com as quais concordo em abstrato, mas quando tento ligar o que escreve com o livro e o autor falho em ver as ligações.
Dizer que "Não existem "dramas femininos". Um relacionamento passivo-agressivo não é saudável. O peer pressure é tóxico." é muito bonito, mas onde é que isso aparece no livro e/ou em que contexto? E como é que isso é misoginia? A Ana Teresa Barreiros não explica...
"A Livraria Good Books não tolera esta linguagem nem comportamentos deste género das personagens quando não têm o objetivo de serem abordados com respeito e seriedade." Novamente é muito bonito, mas não é verdade. O autor aborda estas questões com muito seriedade, abordando assuntos difíceis com tacto e respeito.
"Podia não ter mencionado o assunto e fingido esquecer o assunto, mas vivemos na era em que estes comportamentos desiguais, machistas e tóxicos não são tolerados." E ainda bem que não serão tolerados, mas "A Menina dos Doces" não faz parte desses comportamentos, muito pelo contrario. O autor criou personagens femininas que apesar das vicissitudes da vida, dos erros tem a força para fazer o que é certo no final e outra que nos mostra o que pode acontecer quando nada fazemos. São personagens humanas com falhas como todos nós. Não sei onde estão os comportamentos machistas e tóxicos. Se alguma coisa vejo é precisamente oposto do que a Ana Teresa Barreiros afirma.
As acusações são por si só já muito graves, mas juntar a isso a censura... Quem respeitosamente discordou e se deu ao trabalho de escrever um comentário teve como recompensa ser bloqueada e o comentário apagado. Este comportamento é sempre algo que vejo com desconfiança, porque é algo que não faria. Pergunto-me o porquê desta autentica campanha de difamação e censura. O que é que leva uma pessoa a, contra todas as evidencias, afirmar o seu oposto?
Por fim gostaria de dizer que escrevo este texto não porque conheça o Pedro, mas porque li o livro e li as acusações extremamente graves feitas e não encontrei base para elas. E acho que é nosso dever denunciar também estes "erros de casting".
Espero que a Ana Teresa Barreiros ou fundamente devidamente a acusação que faz ou que se retrate de tão vil acusação. Se não o fizer receio que muito em breve possa existir outra incauta vitima...
PS: espero que a Raquel Vicente não se importe de lhe ter roubado o título.