domingo, 28 de fevereiro de 2021

Opinião – As Crónicas de Allaryia – Volume 6 – O Fado da Sombra de Filipe Faria

 

A capa original


Este foi o melhor livro da saga até agora. Do principio ao fim o livro prende, e a cada vez mais  apurada escrita do Filipe é a grande culpada.


O livro está cheio de voltas e reviravoltas como se fosse uma rotina de ginástica acrobática merecedora de uma medalha olímpica com uma sequencia final a condizer que nos deixam a pedir bis.


E se ainda havia dúvidas da importância do Quenestil este livro mostra que ele é um personagem chave para a história com o seu novo papel de “atiçador” da fúria dos habitantes dos Fiordes e uma nova e poderosa arma que tenho a certeza irá ter um papel fulcral no sétimo e último volume da Saga.


A arte do Samuel Santos que deu origem à capa 


E para não dizerem que só falo bem tenho de apontar um ponto negativo ao livro que terá de ser o combate entre Quenestil e Tannath que dura dezasseis páginas e que o próprio autor reconheceu que foi demais indo ao ponto de dizer que não irá repetir e que é algo que eu apoio incondicionalmente. Não é que seja aborrecido, as descrições da lutas do Filipe nunca o são, mas é definitivamente demasiado longo. Por outro lado dá-nos uma luta entre Aewyre e Kror que está no “ponto”, não tendo recorrido a descrever todos os movimentos e a contar todas as gotas de suor, apenas o que interessa para nos fazer vibrar com o combate.


E Seltor? A dúvida já rondava a minha mente, mas este livro abre as comportas à questão: será Seltor o verdadeiro Vilão desta Saga? A verdade é que ainda não vimos propriamente um comportamento de mauzão. E ele parece estar mais preocupado com algo ainda maior e mais perigoso para toda a Allaryia. O que será…


A capa "fast-food" que a editora escolheu para as novas edições


“O Fado da Sombra” é um excelente prelúdio para o último capitulo da Saga e que promete ser ainda melhor.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Opinião – As Crónicas de Allaryia – Volume 5 – Vagas de Fogo de Filipe Faria

 


Vagas de Fogo, o quinto livro das Crónicas de Allaryia, dá uma reviravolta interessante, acredito que poucos tivessem antevisto ao colocar o destaque em Quenestil. No final do livro o Eahan torna-se um personagem mais completo e com um futuro (ainda) mais relevante na história, o qual estou muito curioso em (re)descobrir.


Aewyre (e Kror por arrasto) neste volume toma um lugar mais secundário. O seu arco narrativo continua a ser  proeminente, mas não acontecem eventos assim tão relevantes, é como se estivesse a “guardar” para eventos mais importantes. 


Longe da “ribalta” e com avanços pouco significativos nas suas narrativas continuam Lhiannah, Worick e Taislin que continuam em Ul-Thoryn, com os dois primeiros ainda prisioneiros em Allahn Anroth. Slayra tem um destino quase igual, passando praticamente toda a narrativa sentada e a dar de mamar aos filhos, mas “salva-se” quase no final com uma surpreendente jogada que lhe irá (de certeza) levar a novos e excitantes caminhos. E Allumno? Faz só duas aparições apenas para vir confirmar que está em acelerada rota de colisão com o seu mestre. E Seltor, o Flagelo, o Anátema? Bem esse está cada vez mais estranho e mais interessante para o leitor que sou com os seus actos que até os seus mais leais súbditos estranham. E Dilet, o Bobo, finalmente revela-se ao mundo como a criatura verdadeiramente maligna que é.


Esboço da Arte da Capa original pela mão do Samuel Santos


Quanto à escrita, já tinha mencionado que entre o primeiro livro e o segundo existe um salto considerável na qualidade da escrita do Filipe e neste volume volto a notar um salto, mas desta vez é algo mais especifico: as cenas de lutas. Até este livro as descrições das lutas eram invariavelmente longas e detalhadas a um nível tal que, no meu caso, ao invés de me envolver faziam-me querer passar à frente. Assim ao quinto livro o Filipe muda mais uma vez para melhor passando a deixar de lado o acessório e a concentrar-se no essencial e assim deixar espaço à imaginação do leitor para preencher os espaços em “branco”. Apenas lhe posso dar os parabéns por tal decisão.


A actual capa genérica da Presença 


Agora que venha o Fado da Sombra.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Opinião - As Crónicas de Allaryia - Volume 4 – A Essência da Lâmina de Filipe Faria

 

A Capa original com a arte do Samuel Santos


Depois de três livros a narrar a viagem a caminho de Asmodeon para descobrir o que aconteceu ao pai de Aewyre, o que acontece no final de terceiro livro, “Marés Negras”, “A  Essência da Lâmina” acaba por ser um livro de transição, funcionando simultaneamente como um prólogo para o que está para vir e uma nova perspectiva de contar a história ao ter a narrativa dividida em mais de quatro pontos de vista. A história avança sem no entanto progredir tanto quanto em livros passados, com uma passada mais lenta. Isto não é um ponto negativo ou positivo, é apenas uma característica deste livro.


Ainda que nenhuma das narrativas progrida muito a que mais atenção recebe é a de Aewyre e Kror e o mistério da Essência da Lâmina com os progressos feitos na Cidadela da Lâmina, embora não cheguem muito longe. As maquinações de Seltor deixam-nos com mais perguntas do que respostas, mas com muita curiosidade para o que se segue. A vida de Lhiannah e Worick em Ul-Thoryn não está nada fácil, alias em toda a Nolwyn paira o espectro da guerra. Taislin está praticamente ausente limitando-se a aparecer no inicio e no fim, embora prometa muito para o próximo volume. Allumno persegue um missão que lhe começa a pesar na consciência e que de certeza irá dar problemas no futuro. E Quenestil e Slayra julgam-se a salvo em Guy-Yrith, mas isso será sol de pouca dura e uma surpresa para eles e para o leitor.  

Arte original do Samuel Santos


O Filipe continua a manter-se fiel ao seu estilo de escrita “afinando-o” ainda mais e no seu todo é algo que eu gosto. Existem elementos que eu aprecio como o uso ostensivo de toda a variedade que a Língua Portuguesa nos oferece, embora às vezes lá apareça uma palavra que não sabemos o significado e tenhas de ir procurar, mas sempre aprendemos algo novo. Já no que concerne às longas e pormenorizadas  descrições não posso dizer que seja um fã. Tenho a certeza que haverá leitores que as apreciem, mas eu nem por isso, é uma opinião pessoal, o meu gosto e não altera o mérito deste e dos outros livros.

A nova e horrivelmente genérica capa da Presença


E que venha o próximo porque estão a torna-se cada vez mais viciantes.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Opinião - As Crónicas de Allaryia - Volume 3 – Marés Negras de Filipe Faria

 

A capa original com arte do Samuel Santos


Se o fim de “Os Filhos do Flagelo” foi ominoso o início deste “Marés Negras” não é menos com um prólogo que não só é violento como antevê um escalar das ameaças que pairam sobre Allaryia.


A história começa onde termina o volume anterior, em Val-Oryth com os companheiros juntos novamente, e com um deles gravemente ferido.

A primeira parte do livro é praticamente dedicada às consequências e repercussões do que assistimos no final do segundo volume. Apesar de não termos grandes momentos “parados” o Filipe consegue fazer bom uso destes para desenvolver mais os personagens e expandir as consequências das suas experiências anteriores. Assistimos a um Aewyre mais impulsivo que tenta proteger preventivamente os seus companheiros das varias ameaças que os rodeiam, a um Worick mais maternal, mas não menos violento, um Taislin mais soturno. Todos mostram mudanças e não ficam estacionários.

Na segunda parte mudamos de cenário e vamos conhecer Sirulia onde irá decorrer um evento que mudará tudo e de certa forma fecha um ciclo na história.

A actual capa, genérica e pior que isso com nada a ver com o livro 


O meu personagem preferido continua a ser o Worick, mas gostei bastante da forma como o Filipe caracterizou o Seltor, não como um vilão monocromático, mas  muito mais complexo e misterioso. Muitas atitudes que fazem com que a “bota não bata com a perdigota” o que o torna ainda mais interessante e desperta mais curiosidade.


O acto final da batalha de Aemer-Anoth foi bastante interessante. Confesso (novamente) que longos capítulos não são a minha “praia”, mas o Filipe faz bom uso deles. Acho apenas que ele faz demasiado uso, de por exemplo, das descrições das armaduras nomeando todos os componentes o que apesar de interessante e demonstrar que estamos perante alguém que sabe do que escreve acaba por quebrar-me um pouco o ritmo de leitura por não saber de metade do que é que ele está a descrever.

A arte para a capa original da autoria do Samuel Santos


Neste volume o Filipe expande a sua mitologia “Allaryiana” com a introdução de novos elementos, ou de elementos que já sabíamos existir, mas que ainda não tinha oportunidade de conhecer na “primeira pessoa” como os Sirulianos e os Eahlan. Elementos aparentemente simples, como o calendário de Anaerin, vem reforçar a verosimilidade de quem lê dando a Allaryia mais realismo seja nas grandes coisas seja nas pequenas como os procedimentos judiciais dos legistas de Bellex.


Mencionei na minha opinião de “Os Filhos do Flagelo” que as diferenças de escrita entre os dois primeiros volumes eram grandes, mas isso já não se nota do segundo para este terceiro volume o que mostra uma consolidação da escrita do Filipe. Não é algo nem bom nem mau, mas simplesmente um autor a encontrar a sua “voz”.


Que venha o próximo livro.