segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Opinião - Deuses como Nós de Vitor Frazão



O primeiro conto da Antologia Proxy pertence ao Vitor Frazão com o titulo "Deuses como Nós".

O tom geral trás à memória alguns aspectos de "Neuromante" do William Gibson ou "Snow Crash" (Samurai: Nome de Código em solo luso) do Neal Stephenson como que a querer ancorar não só o seu conto, mas também o leitor à imagem que temos do que é o Ciberpunk. 

Somos brindados com uma cidade, Nova Oli, dividida entre os que tudo tem e os que de nada dispõem a não ser a sua vontade em viver, mas também entre a luz e a penumbra. É neste ambiente que vamos encontrar a antiquária (mas não só) Cleo Maltez que acaba por ser ver convencida a procurar Délio Ginjeira antigo sócio, e agora uma espécie de terrorista,  de Armando Zarco o todo poderoso dono de Ambrósia, Lda a empresa detentora do Elísio

Não quero revelar muito da história para a não estragar a quem ainda não a leu.

Num conto com cerca de quinze páginas alguma coisa terá de ser deixada, se não para trás, pelo menos para segundo plano e neste caso foi uma caracterização mais detalhada da cidade de Nova Oli e os seus contrastes como nos romances atrás mencionados. O Vitor Frazão nunca esquece isso e vai "metendo" onde pode esses elementos, mas acabam por saber a pouco. Compreende-se que o pequeno número de páginas a isso o tenha obrigado. 

O meu maior "problema" foram no entanto as analepses e prolepses. Apesar de ser um adepto da utilização deste tipo de "truque" se não forem bem urdidas na trama acabam por atrapalhar e frustrar mais do que fomentar a curiosidade e incentivar a leitura. Se as analepses das discussões entre Délio Ginjeira e Armando Zarco trouxeram luz sobre as motivações de cada personagem as de Cleo Maltez pareceram-me, não pela informação, mas pela maneira aleatória como foram colocadas, confusas.

Um bom começo desta Antologia Ciberpunk e um bom trabalho do seu autor que no seu todo se sai muito bem.  

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Proxy - Antologia Ciberpunk



Uma das razões para me ter juntado à iniciativa Leiturtugas (desde já o meu obrigado ao Jorge Candeias) é a de me obrigar a ler mais. Poderá parecer estranho, mas a verdade é que o mundo de hoje tem muitas distracções e o tempo não estica e muito menos anda para trás. E verdade seja dita tenho lido muito poucos livros no último par de anos.

E não só me obrigar-me a ler mais, mas ler mais em português e acima de tudo de autores portugueses. E se existe algo de que tenho orgulhado é de ter ajudado a divulgar bons autores portugueses que escrevem (principalmente) no nosso bom português. E espero continuar a descobri-los e a divulga-los.

Vai-me também obrigar a escrever sobre o que leio, algo que muitas vezes fica pelo caminho...

A verdade é que tenho as estantes (físicas e virtuais) cheias de muitos e bons livros de autores portugueses que se encaixam nas "exigências" da iniciativa Leiturtugas e assim, como se costuma dizer, une-se o útil ao agradável.

Assim chego a esta antologia da Editorial Divergência: Proxy que é a primeira experiência antológica de cyberpunk em Português. Lançada nos idos de Setembro de 2016, já assombrava as minhas estantes à demasiado tempo e que por razões que nunca conseguimos explicar completamente, não seria certamente por falta de vontade, foi ficando na estante a ganhar pó (como infelizmente outros)

Com edição do Anton Stark, um prefacio do sempre certeiro e caustico João Barreiros (e que nunca desilude) este será o meu objecto de atenção durante as próximas seis semanas. Com uma opinião por semana a sair à segunda-feira e começa já amanhã com "Deuses como nós" do Vitor Frazão. 

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Opinião (BD) - Starlight: O Regresso de Duke McQueen



O Pedro Cleto do blog As Leituras do Pedro, como o próprio afirma, ficou surpreso por José de Freitas, editor da G Floy, ter incluido nas suas escolhas de 2018 este "Starlight - O Regresso de Duke McQueen". Tal como o Pedro Cleto também eu fiquei curioso e novamente como o Pedro Cleto também eu fui "resgatar" a minha cópia (literalmente) do meio da pilha de BD's a ler. 


Esta é uma BD evocativa de figuras como Flash Gordon ou Buck Rogers, mas Starlight é mais do que uma mera homenagem a essas histórias e isso pode logo ver-se nas primeiras paginas. Onde essas histórias terminam, esta começa.


Começamos no que costuma ser o fim deste tipo de histórias: o herói a ser homenageado e aclamado depois de ter salvo o povo do planeta Tantalus do seu tirano governante. Somo então catapultados para o Presente da personagem, um Presente triste e cinzento.



Depois do seu regresso à Terra, cai em descrédito porque ninguém acredita nas aventuras que diz ter vivido e acaba por cair no esquecimento, embora nunca totalmente esquecido.

Para mim o melhor desta BD é o seu primeiro capitulo onde os autores exploram a vida do outrora piloto de teste e herói Galáctico caído em desgraça. De como tudo se passou, de como a sua esposa foi um pilar, sempre ao seu lado quando ninguém acreditou que ele havia viajado até outro planeta, de como a morte da sua esposa deixa Duke McQueen, um homem já a entrar na terceira idade , naufragado entre as memorias de outros tempos mais gloriosos e um presente onde os seus dois filhos, já com as suas próprias famílias, o colocam de lado por falta de tempo e vontade. Tudo isto num só capitulo, muitas vezes de modo indirecto e onde temos paginas inteiras sem um único balão de diálogo. Para mim simplesmente brilhante e demostrativo das capacidade dos autores.




É neste momento de indefinição da vida de Duke McQueen que aterra uma nave nas traseiras da sua casa. Nela um rapaz do mundo que Duke salvou à tanto tempo, vem para pedir a sua ajuda pois Tantalus encontra-se novamente preso nas garras de mais um déspota e apenas o grande herói Duke McQueen poderá salvar novamente Tantalus. 


E acho que já sabemos o que se vai passar a seguir. Apesar da indecisão inicial Duke McQueen segue o seu jovem admirador de regresso a Tantalus onde irá viver muitas aventuras até ao inevitável fim, onde tudo, spoiler alert, acaba bem.

Confesso que, pelo menos durante o primeiro e segundo capitulo ainda pensei, tal como o resto das personagens, que as aventuras do jovem Duke McQueen tinham sido uma ilusão. E que com a morte da sua esposa e o alheamento dos seus filhos essas histórias tenham regressado ainda mais em força à mente frágil de um homem à beira do abismo. Pergunto-me se isto passou pela mente de outros leitores ou mesmo dos seus autores. 

Em conclusão "Starlight: O Regresso de Duke McQueen" é uma BD interessante que pega num velho tema e lhe dá uma nova interpretação. Gostei da arte de Goran Parlov que me pareceu adequada ao ambiente que retrata. 


Título - Starlight: O Regresso de Duke McQueen
Argumento - Mark Millar
Arte - Goran Parlov
Editora - G Floy
Tradutor - João Miguel Lameiras

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Opinião - O Poder de Naomi Alderman



Confesso que tinha grandes expectativas para este livro e isso geralmente acaba por não correr bem. A ideia que lhe serve de base deixou o leitor que sou a "salivar" em antecipação. No seu todo achei o resultado interessante, mas com alguns reparos que poderia ter tornado o livro ainda melhor, na minha humilde opinião claro.





Para começar este é um livro dentro de um livro. Confusos? Permitam-me explicar: o livro começa num futuro (muito) longínquo em que se inverteu a dinâmica de poder. Neste tempo são as mulheres quem mandam.  A autora introduz-se no livro como personagem, uma editora que tem de avaliar um livro de um homem que escreveu um romance histórico fantasiado sobre como ocorreu a transformação da sociedade baseado nas provas arqueológicas que tem à sua disposição. O que vamos ler é esse livro. Portanto é uma ficção dentro de uma ficção. Não sei bem o que sentir sobre esta "artimanha". Já tinha visto algo muito similar a ser utilizada há muitos anos num livro que me deixou saudades: "A Segunda Manhã do Mundo" de Manuel de Pedrolo.

Somos pois transportados para essa ficção baseada em factos verídicos desse futuro mundo, ou tão perto disso quanto possível.  Neste mundo ficcionado ao quadrado somos levados ao inicio. É-nos mostrado, como as mulheres começaram a ganhar o Poder, das rápidas e não tão rápidas mudanças na sociedade. A autora tenta a difícil tarefa de balançar a macro e a micro história, o pessoal e o mundial  e acho que se sai bem.

Como homem confesso que senti falta de mais um personagem masculino para nos mostrar mais o outro lado, mais outro ponto de vista. Tunde é um personagem interessante e do qual gostei, mas achei que fazia falta um tipo "normal", como um marido, pai, irmão ou filho, um Zé Manel, com que os leitores masculinos se pudessem ligar. 

No fim fiquei com a sensação de que a autora podia ter ido um pouco mais longe, mostrado mais pontos de vistas. Optou por se ficar por menos, longe de ser algo mau ou bom, foi uma decisão que teve de ser tomada. Seria este livro melhor com mais pontos de vista? Um pergunta interessante, mas que dificilmente terá resposta. 

Voltando ao que disse no inicio as expectativas podem ser tramadas e acho que foi isso que me aconteceu. Gostei do livro, mas sinto que teria desfrutado mais se não tivesse as expectativas tão elevadas. Ainda assim é um livro que recomendo. 

Título - O Poder
Autores - Naomi Alderman
Colecção Bang! n.º 286
Editora - Saída de Emergência
Tradutor - Sónia Maia