sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Opinião - Nos Limites do Infinito (antologia)



As Antologias e as correntes tem mais em comum do que à partida se podia supor. Quer uma quer a outra são tão fortes como o seu elo/conto mais fraco. Claro que ao contrario das correntes as Antologias podem ter muitos contos fracos, mas como diz Jorge Candeias no seu blog "Se numa antologia houver nem que se seja um conto bom, ela vale a pena, por pior que seja globalmente" e isto é algo que subscrevo. 
Com um titulo que promete explorar os limites desse enorme género que é o Fantástico a verdade é que no geral se fica (demasiado) pelo sobrenatural, mas isto posso só ser eu a ler demasiado nas entre-linhas. Todos os contos são (relativamente) competentes, mas à maioria falta aquele "salto" de genialidade que transforma uma obra de mediana em algo verdadeiramente arrebatador. Felizmente existe um conto que consegue esse feito raro: "A Colina que Olha para Ti" de Rui Bastos, que curiosamente (ou não) é de longe o mais novo autor a integrar esta antologia. As menções honrosas vão para "A Pele de Penélope" de Ângelo Teodoro e "A Casa da Rua dos Mirtilos" de Ricardo Dias. Mas vamos lá à minha opinião de cada conto:


"Sorte ao Jogo"de Ana Cristina Luiz - Este conto começou por me cativar por utilizar algo tipicamente português como cenário: a Taberna e também por recuperar alguns jogos mais tradicionais. O conto passa-se no que me parece ser um Portugal profundo e num tempo que tanto pode ser contemporâneo (que é), mas que facilmente se podia ter passado à meio século. Recuperar também as velhas lendas de um Diabo trapaceiro, mas não quero estragar (demasiado) a história. Foi pois com muita pena minha que chegado ao fim fiquei com incomoda sensação que este conto mais parecia um prologo de que um conto com principio meio e fim.

"A Pele de Penélope" de Ângelo Teodoro - Resumindo muito sinteticamente um homem apaixona-se por uma mulher com segredo terrível e mais não quero dizer para não estragar a descoberta aos leitores. A história é narrada na primeira pessoa, pelo homem que se apaixona e devo dizer que esta foi uma excelente escolha para contar a história pois permitiu guardar bem o fim.

"Memórias de Teddy" de João Rogaciano  - Tal como no conto anterior também aqui o autor optou por fazer do personagem principal o narrador, que não é mais do que um urso de peluche. Vamos acompanhar as aventuras e agruras do Teddy ao longo dos anos (e não são assim tão poucos). Infelizmente a "surpresa final" perdeu-se em mim porque já a tinha "visto" a "milhas de distancia". Não culpo (muito) autor, mas sim os muitos anos e leituras que já tenho acumuladas. Talvez este fim resulte em leitores menos versados neste tipo de leituras, mas para mim precisava de algo mais.

"A Casa da Rua dos Mirtilos" de Ricardo Dias - É um "simples" conto de uma casa assombrada, mas surpreende por trocar o habitual tom de terror e suspense por algo mais leve e engraçado. Todos os leitores mais inveterados (como eu) irão adorar (especialmente) o final com que nos iremos (de certeza) identificar.

"A Colina que Olha para Ti" de Rui Bastos. É o conto de que mais gostei e muito por causa da originalidade das ideias presentes, claro que também apreciei (e muito) a maneiro como o Rui contou a história com uma narrativa quase poética. Podem-me chamar louco (e é provável que o façam), mas este conto fez-me lembrar Neil Gaiman (e melhor elogio será difícil), talvez pela imaginação que aqui encontrei e que também encontro nas obras dos escritor Inglês. Este conto também representou mais um raio de esperança no futuro da nossa Literatura Fantástica.

"Entre Estações" de Yves Robert - O sexto e último conto tem como protagonista um autor (o próprio?!) numa viagem de comboio entre Cascais e Lisboa igual a tantas outras não fosse o facto de repara pela primeira vez numa "casinha cor-de-rosa" e num impulso decide visita-la e quem sabe encontrar a inspiração para um historia que precisa desesperadamente escrever. Embora tenha sido "decentemente" escrito foi demasiado previsível na historia que escreveu, faltou-lhe um pouco de "sal".


E eis nos regressados ao inicio e à pergunta que aparece disfarçada no principio: será que esta antologia vale a pena? E a minha resposta não pode ser outra que: vale sim, vale muito a pena.

Uma nota final: ao Rui Bastos o pedido que não pare de escrever pois é um autor que não só demonstra um imenso talento como faz falta ao Fantástico nacional mais uma voz que mostre não só que ele existe, mas que é diverso. E à editorial Divergência que continue o excelente trabalho que tem feito na promoção da Literatura Fantástica nacional apesar de todas as dificuldades que eu tenho a certeza que enfrenta sendo um pequena editora, mas que luta como pode pelo que é nosso. Não desistam porque vocês são muito necessários.


Se vos despertei a curiosidade (e espero que sim) então nada como encomendar já no site da Editora Divergência (e já agora deixarem-se tentar pelas outras coisinhas boas que eles tem por lá...).
Para os que gostam de ter a sua copia autografada pelo autores então amanhã tem duas possibilidade: em Lisboa na Biblioteca de S. Lázaro pelas 14H30, ou então em Torres Vedras na Junta de Freguesia de S. Maria, S. Pedro e Matacães pelas 18H, mas informações neste link: Lançamento da Antologia "Nos Limites do Infinito" em Lisboa e Torres Vedras.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

De Regresso ao Futuro ou como um filme pode mudar uma vida



Hoje tudo o que é media (rádio, televisão e internet) fala sobre os filmes da saga Regresso ao Futuro (Back to the Future). Peças jornalísticas nos jornais, rádios e televisão e certamente (muitos) post's em blogs, facebook e afins mais ou menos elaborados, com maior ou menor interesse em que exploram o que o filme acertou e o que falhou, as peripécias das filmagem, etc. Hoje todos recordam a imortal saga cinematográfica de Robert Zemeckis, em que Michael J. Fox deu vida a Marty McFly e Christopher Lloyd encarnou "Doc" Brown. Hoje vamos ver isso tudo, mas à maioria do que virem faltará uma ligação mais profunda.



Para mim Regresso ao Futuro foi mais do que um mero filme que vi e gostei. Ele tocou-me e ao fazê-lo mudou-me. Vi-o pela primeira vez naquela fase impressionável que fica entre o fim da inocência da infância e a tomada de consciência de como é o mundo que é a adolescência (e não, não o fui ver ao cinema, sou um pouco mais novo que isso).



O filme marcou-me porque foi o primeiro que me fez pensar, reflectir, não o mero imaginar da infância, mas verdadeiramente pensar sobre esse fascinante tema que são as viagens no tempo. A isto não será certamente alheio o acontecimento trágico que tinha ocorrido algum tempo antes na minha vida. As viagens no tempo abriram-me as portas da imaginação fazendo-me pensar "E se?".



Escrevi as minhas teorias nas folhas de uma agenda e que ainda hoje devem estar guardas num caixa no cemitério das vidas passadas que são os sótãos. Lembro-me de um episódio caricato: deveria andar no sétimo ano e estava no liceu a escrever e a aperfeiçoar as minhas teorias de viagens no tempo quando um aluno do décimo primeiro ou décimo segundo me apanhou o caderno, pensei que estava tramado, pensei "ele vai ler e rir-se de mim e contar a toda a gente". Começou a ler e foi avançando sem um comentário e uma expressão de concentração. No final passa-me o caderno e diz-me "Muito fixe". Já não me lembro se disse alguma coisa ou se fiquei mudo, mas lembro-me de pensar que se ele, que era mais velho, gostava daquilo talvez houvesse alguma coisa ali digna de perseguir. Não persegui nada daquilo claro.



Talvez se tivesse tido algum incentivo hoje fosse um físico a procurar saber o quão certo ou errado eu estava. Não me tornei um físico e também não me tornarei, mas fiquei a adorar a Ficção Cientifica e a Ciência. E quem sabe se por causa desta minha paixão não irei contagiar algum elemento da geração que agora nasce a tornar-se na pessoa que criará as viagens no tempo? E quem sabe se numa linha temporal alternativa eu, por causa deste filme, não me tornei no cientista que criou as viagens no tempo? Quem sabe...


sexta-feira, 31 de julho de 2015

Um excelente quarto Aniversario

Para os que já pensavam que eu tinha morrido, bem lamento desiludir, mas ainda estou vivo. A verdade é que nos últimos quatro meses, e apesar das muitas ideias que (sempre) flutuam na minha mente, deixei de ligar às redes sócias (como eu odeio o Facebook). Estive a babar-me com a gratidão e abnegação de que algumas pessoas são capazes em nome dessas jóias que são os livros. Quatro meses volvidos e ainda não me consegui recompor do facto de que alguém pura e simplesmente me deu esse cálice sagrado da Ficção Cientifica Portuguesa que é  "Terrarium" do João Barreiros (a quem já dei hoje os parabéns) e o Luís Filipe Silva, mas sobre esta "peripécia" falarei daqui a uns dias (sim eu estou de regresso). E para marcar (ainda mais) o quarto aniversario quero deixar alguns de vós ainda mais invejosos: no mês passado na mais improvável das feiras de velharias que frequento, a da cidade de Águeda, encontrei "O Caçador de Brinquedos e outras Histórias" do João Barreiros, ainda hoje a minha alma está parva, mas serve para provar que nos locais mais improváveis... bem vocês percebem. 

E o melhor é não escrever mais nada e levar a coisa com calma porque depois de quatro meses sem cá vir não quero provocar algum acidente por demasiado esforço sem estar devidamente "aquecido". 

sábado, 14 de março de 2015

Opinião - Revista Trasgo 5



Depois de uma ano e quatro números gratuitos, onde mostraram ao mundo o projecto que queriam desenvolver chega agora o quinto número que marca a fase seguinte no projecto Trasgo: a profissionalização. A revista deixa de ser gratuita e passa a ser paga para assim poderem remunerar todos os envolvidos pelo seu trabalho. Os preços variam conforme o local onde compram, se for na loja da Kobo (a única com o preço já em euros) o preço é de €2.03, se for na Amazon é de R$4.99 (cerca de €1.50), também podem comprar directamente ao Trasgo e até fazer uma assinatura anual, correspondente a quatro número custa R$18,00 (cerca de €5.50). A ideia de querer pagar aos envolvidos é nobre e eu concordo com ela, mas não são os primeiros a tenta-la e o problema é que no mercado brasileiro já existem algumas publicações do mesmo género, como a Somnium e a revista Bang Brasileira e ambas, são gratuitas, portanto quem irá pagar quando tem outras opções similares grátis? Um pergunta difícil, mas que tem de ser feita. Não conheço em detalhe o mercado brasileiro, mas do que conheço e se o mercado português servir de paralelo não posso dizer que esteja esperançoso. Apesar destas minhas reticencias o meu desejo é que o projecto triunfe nos moldes em que foi visionado, mas receio que a realidade não se coadune com os desejos dos homens. Pela minha parte aqui fica a minha ajuda em cativar alguns "clientes" com a minha opinião sobre o quinto número.


Contos:


Os Americanos Que Vieram do Céu de George dos Santos Pacheco - A ideia base deste conto, uma invasão extraterrestre, não é a mais original, mas gostei da tom geral que o autor deu à história. Achei que houveram algumas falhas de lógica aqui e ali e também no ritmo, mas nada que tivesse estragado o todo, pelo menos para mim.


O Preço da Cura de Roberta Spindler - Um conto curto com algumas ideias interessantes, mas que merecia ter sido melhor explorado e que no fim deixa a sensação de que é apenas o principio de algo maior.


O Prego de Batalha de A.Z. Cordenonsi - Ambientado num universo Steampunk este conto deve muito à opção de seu autor em o narrar recorrendo a vários pontos de vista. Sendo bem utilizada esta ferramenta narrativa consegue dar (muito) mais emoção a uma história, o que foi, definitivamente o caso. Apenas acho que faltou algo no final para ficar perfeito.


Um Convite Para o Jantar de Cláudio Villa - Um conto baseado numa lenda, mas mundano (sem fantasia) e também sem grande história que me despertasse a atenção. 


Isso É Tudo, Pessoal de Cesar Cardoso - Certamente que já viram um foto, seja de pessoas, animais ou objectos, feita de fotos mais pequenas. Ora é algo assim que temos neste conto que é formado por micro narrativas que nos dão uma imagem do que se passa neste universo onde a humanidade está no fim. Gostei da ideia, mas da execução já não posso dizer o mesmo, muito por culpa de um começo demasiado confuso  que irá desencorajar alguns leitores.


Canção Abissal de Priscila Barone - Um boa história de FC com um travo a contos de fadas, gostei.


Publicidade

Se nos números anteriores já se tinha visto alguma publicidade esta edição traz algumas novidades nesse campo com dois autores a publicitar os seus livros com a disponibilização dos prólogos dos mesmos. 

A Torre Acima do Véu (Prólogo) de Roberta Spindler - Um prólogo que me deixou muito curioso para o resto do livro, mas que, curiosamente (ou talvez não), também funciona bem como conto, um pouco ao contrario do outro conta que está nesta edição.


Le Chevalier e a Exposição Universal (Prólogo) de A. Z. Cordenonsi - Tal como o outro conto que o autor nesta edição também este livro se ambienta num universo Steampunk. Algumas ideias interessantes, mas só lendo mais (um pouco) para dizer melhor aferir a qualidade do mesmo.


Segue-se a habitual Galeria do artista Zakuro Aoyama e claro as entrevistas. Apenas destacaria a entrevista a George dos Santos Pacheco por partilhar comigo a opinião de que temos de começar criar uma Ficção Cientifica e Fantasia nossa, temos de deixar os nomes estrangeiros e os locais distantes e abraçar a nossa cultura como fonte de inspiração e o nosso "quintal" como palco das narrativas, enfim perder a vergonha da nossa identidade.


Reitero o meu desejo de que esta publicação prospere.

Podem encontrar a Revista Trasgo  neste link onde poderão encontrar os links para os vários locais onde ela se encontra disponível: TRASGO 05 – COMPRE O EBOOK

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Opinião - Doze Doses de Ilusão de Carina Portugal

O ano de 2015 no que às leituras em formato digital diz respeito começa em português e com uma autora que já tenho destacado antes: Carina Portugal

Neste "Doze Doses de Ilusão", um conto de Ficção Científica, somos levados a conhecer e partilhar a dor de um pai pela perda de uma filha (do coração). Para fugir da triste realidade toma uma overdose de medicamentos destinados a criar ilusões, mas algo não corre como o previsto. 

Este conto (pareceu-me) ter tido (parcial) inspiração nos textos e temáticas de Philip K. Dick, com as drogas e a problemática do que é real e o que não é. Embora aqui se explore isso nunca se chega a sentir isso, muito por culpa do final.

É um conto interessante, mas acho que merecia ter sido um pouco mais longo e melhor explorado em alguns pontos.

Este conto pode ser encontrado gratuitamente no site do projecto Fantasy & co, no índice de contos ou então visitar a pagina do Fantasy & co no Smashwords, onde o poderão descarregar nos formatos epub, mobi e pdf.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O Ano começa em plena Época de Acasalamento




P. G. Wodehouse é um autor pouco conhecido por cá, e mesmo lá forma não será o mais famoso, mas é um autor que marca, e muito, quem o lê. Um desses "marcados" foi um amigo que no espaço virtual dá pelo nome de Ubik. E foi por sua causa que este livro, e outros, me chegaram às mãos e olhos e aqui fica o meu agradecimento publico.

Autor dono de um humor bastante singular pareceu-me um escolha perfeita para começar o ano. Tendo lido a primeira meia dúzia de paginas começo a perceber o porquê de tanto e rasgados elogios.

E assim começa o ano, boas leituras a todos.