domingo, 1 de setembro de 2013

Opinião - A Imagem de Joel G. Gomes (versão Beta)



Antes de mais gostaria de fazer alguns avisos à "navegação". A opinião que se segue vai divergir do que é habitual. O autor do livro "A Imagem", o Joel G. Gomes, publicou aquilo que ele chamou uma versão beta deste seu livro e pediu opiniões para o melhorar. Eu, como está visto, aceitei o desafio. Assim sendo, para além do habitual gostei (ou não), vou dar alguns conselhos, apontar defeitos e possíveis correcções que espero ajudem à construção de um livro (ainda) melhor. 

A Imagem é um livro que se passa a seguir ao livro Um Cappuccino Vermelho, com o qual partilha não só o mesmo mundo ficcional, como também alguns personagens, e embora a sua leitura não seja necessária para a compreensão deste eu aconselho-a. Para os que já leram Um Cappucino Vermelho o autor eleva aqui a fasquia, não um, mas dois ou três níveis, o que, como poderão constatar mais à frente, tem os seus perigos, mas lá está quem não arrisca não petisca.

O primeiro reparo que gostaria de fazer é o mais básico de todos: a revisão. O Joel chamou a esta edição uma versão Beta, mas para mim isso não pode desculpar os (muitos) erros que fui encontrando ao longo do texto. Atenção não eram erros ortográficos propriamente ditos, mas sim falhas como acontece a todos nós que escrevemos com um teclado e escrevemos uma letra a mais, erros que "facilmente" teriam sido purgados com uma simples releitura do texto.

A história deste livro é algo complexa, isto não é em si nem mau nem bom, os problemas podem surgir quando se passa do complexo (mas coerente) ao complicado (e confuso). O Joel consegue fazer a gestão das muitas personagens relativamente bem, mas eu deixo alguns conselhos para que não só o complexo não se torne em complicado para muitos leitores, mas também porque acho que a narrativa vai sair a ganhar. Em primeiro lugar ao invés de ter simplesmente o capitulo 1, 2 e por ai fora eu aconselhava a que fosse indicado a data, isto porque o texto está carregado de analepse  o que em algumas alturas levou-me a algumas confusões (do tipo "Mas este tipo não estava morto?). O que me leva ao próximo conselho: para além das datas os capítulos deveriam ter o nome do personagem do qual aquele capitulo dá primazia, isto porque o autor já faz isso, contado a historia em cada capitulo usando o ponto de vista de um determinado personagem, portanto à que vincar isso apenas.
Outro aspecto a alterar (ou que eu alteraria) é a ordem dos capítulos. O Joel "dá-nos" dois ou três capitulo seguidos do personagem X um do Y e dois do Z, era muito melhor fazer uma rotação, assim aumentava a curiosidade do leitor e a sua vontade ler mais. O que me leva à questão sobre o momento em que os capítulos terminam. Eu gostei muito da historia e acho que é bastante boa, mas isso não basta, é preciso aliar a isso uma escrita que atraia o leitor. O Joel podia criar capítulos mais pequenos (em alguns casos) e deixar o leitor (super) curioso com que ai vem (é um "truque" relativamente básico, mas que resulta), ao invés disso muitas vezes os capítulos são prolongados e alguns momentos de suspense são perdidos com a revelação logo a seguir do mistério, quando podia ter terminado o capitulo ali e passado a outro personagem deixando o leitor curioso por saber mais.
Juntando e resumindo aconselho capítulos mais curtos em que o titulo deverá ser a data e o nome do personagem em quem recai o ponto de vista, algum cuidado sobre onde o capitulo termina para deixar um fio solto de maneira a deixar o leitor curioso por mais e claro alternar os pontos de vista de cada personagem. Um (bom) exemplo do que digo é o que o George R. R. Martin faz nos livros de As Crónicas de Gelo e Fogo.

Não se pense que A Imagem é um livro mau e cheio de defeitos, apenas pelo que possa eventualmente transparecer das minhas palavras acima escritas. Este livro do Joel tem muitas e excelentes qualidades como uma boa historia e muita imaginação e as qualidades da sua escrita também estão lá. Se pareço um editor num dia não é porque acho que o livro tem muito potencial e ainda pode ser melhorado, mas as suas qualidades intrínsecas estão lá, se não achasse que valeria o esforço não estaria aqui a perder o meu tempo, o vosso e claro o do autor. 
Tenho consciência que o que aconselho, a ser seguido, irá levar a uma rescrita bastante grande do livro, porque embora não vá alterar a historia, ira mexer profundamente na estrutura narrativa do livro, mas se o proponho é porque acho que vai enriquecer o livro.

Faço votos de que este meus conselhos possam ajudar o Joel a melhorar o seu livro, e espero que no final ele diga "Foi difícil, mas valeu a pena" e que os seus leitores concordem.

Se quiserem ler esta versão beta podem encontra-la no site Smashwords neste link: A Imagem de Joel G. Gomes.

4 comentários:

  1. Ois Marco,

    Parabéns pelo teu comentário, só ver o facto de te disponibilizares para o desafio lançado pelo escritor já é de dar os parabéns, não sei se estás correto ou não mas parece-me um comentário sincero e competente, como habitual. Pelo que percebo tem tudo para fazer uma boa história, só tem que dar uns toques à Martin para nos deixar mais curiosos :D

    Abraço

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  2. Obrigado Fiacha, fui sincero e espero que a rescrita, seja seguindo os meus conselhos ou de outros, torne o livro ainda melhor.

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  3. Todos os conselhos, dicas, sugestões, etc., são bem vindos. Principalmente quando bem fundamentados e explicados, como é o caso. A parte da divisão e reordenação dos capítulos já era algo que tinha em mente. Só não o fiz já para esta versão porque não queria dar ao público uma versão diferente daquela que está a ser revista por outras pessoas.

    Quanto à questão das datas tenho de esperar para ver se a sua não-presença é mesmo um obstáculo ou não. A primeira pessoa que o leu não teve dificuldade nenhuma nesse aspecto. Mas isso não quer dizer que o problema exista - apenas que das duas pessoas que leram e deram feedback achou que fazia falta, a outra nem por isso. É esperar para ver

    Por último, letras ausentes, vírgulas a mais ou menos, pontos de interrogação no lugar de pontos, etc... Que dizer disso? Conhecer demasiado bem o texto? Não precisar de olhar para o teclado enquanto escrevo? Tudo isso. Tenho de ir lá com uma lupa.

    No mínimo terei de te oferecer um exemplar. Tá visto.

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  4. Obrigado pelo elogio, fiz por fundamentar o que disse, mas como não faço disto vida é natural que ainda tenha muito a aprender como "leitor beta" ;)

    Eu aprecio muito as analepse, gosto muito quando sei que, por exemplo, um personagem morreu, mas não sei como isso aconteceu e depois o chegar lá, mas senti a falta da informação temporal, mas lá está isso sou eu, mas mesmo que não venhas a inclui-la na tua versão final também não acho que isso seja uma "desgraça".

    Como disse o essencial está lá, o resto são gostos.

    Quanto a essa oferta não digo que não, mas se tiver que "contribuir" também o farei de bom grado.

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