Confesso que tinha grandes expectativas para este livro e isso geralmente acaba por não correr bem. A ideia que lhe serve de base deixou o leitor que sou a "salivar" em antecipação. No seu todo achei o resultado interessante, mas com alguns reparos que poderia ter tornado o livro ainda melhor, na minha humilde opinião claro.
Para começar este é um livro dentro de um livro. Confusos? Permitam-me explicar: o livro começa num futuro (muito) longínquo em que se inverteu a dinâmica de poder. Neste tempo são as mulheres quem mandam. A autora introduz-se no livro como personagem, uma editora que tem de avaliar um livro de um homem que escreveu um romance histórico fantasiado sobre como ocorreu a transformação da sociedade baseado nas provas arqueológicas que tem à sua disposição. O que vamos ler é esse livro. Portanto é uma ficção dentro de uma ficção. Não sei bem o que sentir sobre esta "artimanha". Já tinha visto algo muito similar a ser utilizada há muitos anos num livro que me deixou saudades: "A Segunda Manhã do Mundo" de Manuel de Pedrolo.
Somos pois transportados para essa ficção baseada em factos verídicos desse futuro mundo, ou tão perto disso quanto possível. Neste mundo ficcionado ao quadrado somos levados ao inicio. É-nos mostrado, como as mulheres começaram a ganhar o Poder, das rápidas e não tão rápidas mudanças na sociedade. A autora tenta a difícil tarefa de balançar a macro e a micro história, o pessoal e o mundial e acho que se sai bem.
Como homem confesso que senti falta de mais um personagem masculino para nos mostrar mais o outro lado, mais outro ponto de vista. Tunde é um personagem interessante e do qual gostei, mas achei que fazia falta um tipo "normal", como um marido, pai, irmão ou filho, um Zé Manel, com que os leitores masculinos se pudessem ligar.
No fim fiquei com a sensação de que a autora podia ter ido um pouco mais longe, mostrado mais pontos de vistas. Optou por se ficar por menos, longe de ser algo mau ou bom, foi uma decisão que teve de ser tomada. Seria este livro melhor com mais pontos de vista? Um pergunta interessante, mas que dificilmente terá resposta.
Voltando ao que disse no inicio as expectativas podem ser tramadas e acho que foi isso que me aconteceu. Gostei do livro, mas sinto que teria desfrutado mais se não tivesse as expectativas tão elevadas. Ainda assim é um livro que recomendo.
Título - O Poder
Autores - Naomi Alderman
Colecção Bang! n.º 286
Editora - Saída de Emergência
Tradutor - Sónia Maia
Neste tempo são as mulheres quem mandam.
ResponderEliminarQueres dizer que agora não são?! ;)
Tenho alguma curiosidade quanto a ler "The handmaid's tale" mas tenho algumas reservas quanto à maneira como as autoras americanas encaram o que chamam "patriarcado". Isto de falar contra o patriarcado é muito moderno, mas pergunto-me porque é que elas se queixam em vez de agirem mais para mandarem o patriarcado à vida. Se existe "patrircado" a culpa é das mulheres que não se unem em vez de dizerem mal umas das outras e andar sempre com medo que outra lhes roube o homem. E depois queixam-se. Não mandam (mais) porque não querem.
Tenho de reconhecer que essa frase andou até ao fim para ser mudada, porque também não me soava bem por essa razão. As Mulheres mandam muito, aliás sempre mandaram e temos muitos exemplos históricos de serem elas a mandarem. No fim lá me verguei ao discurso oficial e essa frase ficou.
EliminarSe tens curiosidade em ler "The Handmaid's Tale" (A História de uma Serva) então acho que deves ler. Eu gostei bastante. Confesso que a serie de TV consegue esse feito raro de ser ainda melhor. A culpa disso devesse, na minha opinião claro, em termos "só" o ponto de vista da "Offred" no livro. Repara não é uma coisa má e literáriamente faz muito sentido porque dessa maneira nós, o leitor, tornamos nela e assim sentimos o que ela sente, a opressão, o medo, etc. Como a linguagem da TV e Cinema é diferente tiveram de fazer a “tradução” para essa mesma linguagem e fizeram-no de modo brilhante. A serie pegou no que ela "vê" no livro e expandiu isso para outras personagem. Não temos apenas a visão da Offred, mas também de muitas outras personagem e assim sabemos (muito) mais do que se passou e passa naquele mundo tão estranho quanto terrivelmente familiar. E assim espero ter te aguçado a curiosidade…
Quanto às tuas (e passo a citar) “reservas quanto à maneira como as autoras americanas encaram o que chamam "patriarcado"” tenho a informar te que a autora é Canadiana e como sabemos o Canadá é outro mundo apesar de estar ao lado dos Estados Unidos.
Quanto à questão do “patriarcado” isso é motivo para conversa sem fim…
Tenho a sorte de trabalhar num meio em que a maioria das posições de chefia é ocupada por mulheres. Só não há mais mulheres em posição de chefia porque muitas não querem estar tão afastadas dos filhos enquanto eles crescem. Mas muitas abicaram de grande parte da vida familiar pela carreira, ou até de ter uma vida familiar, o que nos tem levado ao problema demográfico que temos hoje. Quem é que nos vai pagar as reformas se as mulheres não têm filhos por causa da carreira?
ResponderEliminarPor isso não acho que nos dias de hoje as mulheres estejam numa posição em que o patriarcado seja uma preocupação. É mais uma questão de facilitar a maternidade com inciativas que libertem as mulheres do papel tradicional de ficar em casa a tomar conta dos filhos. Por exemplo, licença de paternidade obrigatória. Assim acaba-se aquela coisa velhinha e repugnante de não contratarem/promoverem uma mulher porque pode ficar grávida. Penso mesmo que é por aí.
Curiosamente ontem estive a ouvir um programa na Radio Renascença, Da Capa à Contracapa, que esta semana tinha como tema “Quem são as mulheres portuguesas?” com a Mariana Canto e Castro e a Isabel Stilwell. Não ouvi desde o inicio, mas tocaram em algumas dessas questões. A dada altura falam que se a licença parental fosse obrigatória então talvez as mulheres não fossem discriminadas por poderem engravidar. Já agora deixo o link se ficaste curiosa (são só 30 minutos):
Eliminarhttps://rr.sapo.pt/artigo/141327/quem-sao-as-mulheres-portuguesas
Enfim uma questão com muito que se lhe diga.
Viva,
ResponderEliminarEstive para pedir este livro à Editora mas como são tantos que ha por ler acabou por me passar ao lado, mas vejo que não te encheu as medidas, logo não devo ter perdido grande livro, mas quem sabe até podia vir a gostar :)
Essa das mulheres só mandarem naquele tempo humm, ainda hoje XD
Abraço e boas leituras
Acho que não é tanto um caso de me "encher as medidas" (ou não), mas mais um caso de expectativas demasiados altas. Estava como as expectativas muito elevadas e isso nunca acaba bem, como digo no texto.
EliminarNão existe nada como leres e tiras as tuas próprias conclusões.
E sim que manda nisto são elas ;) :D
Um abraço