quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Uma Paixão em Comum

Visito feiras de antiguidades já lá vão alguns anos. Neste intervalo de tempo a minha assiduidade tem me valido a criação de laços de amizade com alguns dos seus comerciantes. Alguns deixaram de ser meros vendedores a quem apenas se pergunta o valor da "mercadoria" e com quem se regateia o preço e passaram a ser amigos, bem pelo menos tanto quanto os breves momentos que lá passo o permitem. Começamos a falar com eles, a perguntar se tem o livro A ou B, a colecção X e Z, um autor chamado Manel ou Zé, se não podem trazer mais livros de FC e assim eles começam a conhecer os nossos gostos e a tentar satisfazer-los. Bem sei que uma parte do que os move é o negócio, claro, afinal é assim que ganham parte ou todo do seu rendimento e manter os clientes satisfeitos faz parte da actividade. Mas existe outro lado, eles tal como eu e vocês são apaixonados por livros e isso nota-se nas conversas que tenho tido com alguns deste alfarrabistas itinerantes. E acabamos por trocar impressões sobre os livros que lemos, os que gostaríamos de ler e os que já nunca iremos ler. As vezes chego a ajudar a vender fazendo elogios a algum livro que está na mão de algum cliente indeciso. E eles por sua vezes acabam por me fazer um preços jeitosos nos que compro e as vezes até nos dizem com aquele ar de quem sabe que nos está a dar um doce: "Vá, escolhe lá mais um" e depois piscam-nos o olho. Estes momentos são algo que eu tenho vindo a acarinhar e a preservar como se fosse o mais raro dos livros.

Ora vem este texto a propósito de uma merecida homenagem a esse homens e mulheres que percorrem as feiras de antiguidades deste país e que tantas alegrias me tem dado, a mim, mas também a muitos outros, com pequenos tesouros à muito afastados dos escaparates das livrarias e que me tem permitido descobrir um passado muito mais rico do que aquilo que eu alguma vez poderia ter imaginado.

Ainda à pouco tempo um destes amigos alfarrabistas presenteou-me com um deste livros raros. Raro porque não só é antigo e difícil (quase impossível de encontrar), mas que ainda por cima estava autografado pelo autor, o que o torna numa verdadeira pérola. O livro é "Vieram do Infinito" de Eric Prince (1955) e ao contrario do que o nome possa sugerir o seu autor é 100% Português. Este livro é da Editorial Minerva e é o primeiro de uma colecção que simplesmente ficou por aqui.
Podia ter tentado vender-mo, e até ter pedido um bom preço por esta raridade, mas ao invés simplesmente deu-mo. Haverá quem diga que estava a pensar apenas no negócio, que ao dar-me este "rebuçado" me está a fidelizar, e talvez essas pessoas até tenha razão, mas eu prefiro acreditar que o fez porque ambos temos uma paixão em comum: os livros, e que ambos gostamos de partilhar esta nossa paixão com outros iguais a nós.  



4 comentários:

  1. Viva Marco,

    Sem duvida que fizeste um grande achado e logo assinado pelo escritor e tudo.

    Sem duvida que deves encontrar grandes achados nos locais onde vais e sei que o fazes com frequência.

    E bem aproveitado para fazeres a homengem muito justa, excelente post ;)

    Abraço

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    1. Amigo Fiacha foi um grande achado, ou neste caso uma grande oferta ;) e sim fazem-se grandes achados, mas as vezes é preciso muita perseverança e paciência, mas compensa.

      Obrigado pelo elogio

      Um abraço

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  2. Olá,

    O que dizes é uma verdade muito grande. Os alfarrabistas são tantas vezes esquecidos... Na última Feira do Livro ali dos Aliados, encontrei um com quem estive à conversa, e era tão boa pessoa, com tanto para dizer e ensinar, e fileiras de preciosidades. Nada contra os restantes comerciantes, mas nos alfarrabistas vejo um brilho nos olhos que pouco se vê nos que apenas vendem livros.

    Ainda hoje li no Jornal de Notícias uma coisa triste, muito triste... Mas ninguém quer saber, tanto é que nem encontro a notícia na net. Sobre um alfarrabista no Porto que perdeu milhares de euros em livros, muitos deles raros e valiosos, por causa de humidade, umas obras da Câmara e/ou do Hotel que cede o espaço e que, literalmente, meteram água. Enfim...

    Beijinhos

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    1. Olá Nádia realmente os alfarrabistas são muito esquecidos, mas é como dizes eles tem muito para ensinar e muitas preciosidades para descobrir.
      O problemas nos comerciantes que vendem livros novos não é eles não gostarem de livros, mas como a maioria das livrarias são da Bertrand e Fnac o que lá encontras são pessoas simpatias (na sua maioria), mas que nunca lá ficam o tempo tempo suficiente para ganharem a experiência que os alfarrabistas tem.

      Essa noticia é realmente muito triste, não só pelo lado humano, claro, mas também pelo património que se perdeu para sempre.

      Um abraço

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