Interessante é sem dúvida o adjectivo apropriado para definir "Os Três" de Sarah Lotz. Este é um livro que foge às habituais regras que regem a escrita de um livro de ficção. Ao invés do habitual narrador omnipresente e omnisciente e de uma narrativa cronologicamente linear, temos um conjunto de entrevistas, reportagens de jornais, chats na Internet e outras fontes de informação transcritas que no seu conjunto formam (quase) um livro dentro do livro. A autora deste livro dentro do livro é a jornalista Elspeth Martins que reconstitui o que aconteceu na Quinta-feira Negra e os eventos que se lhe seguiram. Quinta-feira Negra foi o nome que foi dado ao desastre de quatro aviões no mesmo dia. Da desgraça desse desastre três crianças sobrevivem naquilo que muito dizem ser um milagre. Assim vamos acompanhando o mundo pelos olhos e descrições dos familiares, amigos ou outras pessoas que foram afectadas directa ou indirectamente pelas três crianças e pelos desastres.
Confesso que houve uma pergunta que ecoou no fundo da minha mente enquanto lia o livro. Nunca foi "ruidosa", nunca me desconcentrou, quando muito, apenas aguçou mais a curiosidade. A pergunta era: "Onde está o elemento, seja de Fantasia ou de Ficção Científica, que qualifica este livro como sendo da colecção Bang?" Ora a resposta só chega no fim, literalmente no fim e é uma resposta que deixa mais perguntas que respostas. Não é o tipo de final que me agrade, gosto que o autor deixe tudo "arrumadinho" nada de pontas soltas, mas neste caso acho que esse fim ainda torna o livro melhor, como um último elemento que faz sobressair (mais) o todo.
A simplicidade com que a autora nos prende ao livro é incrível. Aqui não temos os habituais truques de narrativa em que o autor "corta" o capitulo mesmo antes de uma qualquer "grande" revelação ou desenlace deixando-nos presos para saber se esta ou aquela personagem morreu ou outra situação similar. Não, aqui não há nada disso, ao invés disso a autora faz algo mais subtil, vai-nos deixando migalhas. Estas migalhas não são logo perceptíveis, apenas quando chegamos ao fim (ou perto disso) é que damos conta que fomos manipulados e admito que sabe bem. E repare-se que ela faz tudo isto apenas com textos que simulam conversas, muitas vezes de pessoas que na vida real seriam tudo menos interessantes.
Fazendo um jogo de palavras com o elogio que Stephen King faz ao livro na capa e contra-capa posso afirmar que este é um livro magnificamente interessante ou interessantemente magnifico fica à vossa consideração para escolha. Só tenho pena que a Saída de Emergência não lhe tenha dado um maior destaque pois ele bem merece.
Viva,
ResponderEliminarJá li e subscrevo o teu comentário, um livro que merecia maior visibilidade :)
Abraço
Olá Corvo
EliminarMerce merecia, mas desde quando é que isso é sinonimo de mais vendas como tão bem sabemos? Quem sabe um dia não se descobre, mas até lá...
Um abraço