Existe uma fábula que conta a historia de uma aldeia em que era tradição levar os mais velhos e incapazes até ao monte, longe das pessoas e da civilização e deixa-los lá. Um dia um filho faz isso com o seu pai, tal como a tradição manda. Lá chegados dá ao pai alimentos e uma manta, o pai diz-lhe para cortar a manta em dois e o filho pergunta-lhe para quê e o pai responde simplesmente para ti quando for a tua vez. O filho ouvindo tais palavras pega no pai e leva-o de volta a casa declarando que aquela tradição acabava ali. Acredito que tenha sido esta história a que Ana C. Nunes tenha vindo beber (parte) da inspiração para este conto.
Aqui somos confrontados com um Portugal num futuro não muito longínquo (o protagonista nasceu em 1979) onde os que não conseguem trabalhar, sejam eles novos ou velhos, ricos ou pobres, são dispensáveis e tal como na fábula acima referida são deixados num lugar remoto para morrer. O que levou a isto foi uma crise económica, primeiro a nível Europeu seguida de uma a nível Mundial, levando Portugal a uma ditadura de extrema direita. (Quase) Tudo isto é nos contado num monologo logo ao inicio, alias todo o conto é na primeira pessoa e isso ajuda a dar uma visão mais pessoal. Confesso que por um lado achei o monologo interessante, quase como se fosse uma conversa por outro existe lá fundo uma vozinha a dizer: podia ter arranjado maneira de mostrar isto.
Gostei da história e que apesar de bem contado achei que a autora podia ter dado mais ênfase a alguns aspectos, mas isso é já entrar pelas opções que tem de ser tomadas pelo autor e não quero ir por ai.
Viva,
ResponderEliminarEstá a ter boas surpresas esta antologia bom sinal, estou a ficar curioso :)
Abraço
É a coisa boa das antologias vais sempre encontrar pelo menos um conto que vale (bem) a pena ;)
Eliminar