segunda-feira, 26 de maio de 2014

Os Portugueses também escrevem FC e da boa!!! - Uma (possível) Iniciação à Ficção Científica

Portugal, apesar de tudo o que à partida possa parecer, sempre teve colecções de Ficção Científica, em maior ou menor número, como mais ou menos sucesso. Como ainda hoje se pode verificar grande parte dos autores que as constituem são de Língua Inglesa e um ou outro de outras nacionalidades que conseguem furar este bloqueio, mas os nomes Portugueses raramente eram (e são) vistos. Fruto de um iliteracia que grassou na nosso País até bastante tarde e que ainda hoje estamos a tentar apagar e de dos já referidos preconceitos e ainda de outros motivos que não enumerarei para não me tornar maçador, Portugal nunca teve escritores de renome na FC, ou pelo menos nunca escritores que tenham atingido níveis de popularidade suficientes junto do grande publico. A primeira vez que se viu um conjunto de escritores de Língua Portuguesa a atingir não só o sucesso (relativo), mas também a mostrar o quão bons eram terá sido na colecção de bolso Caminho Ficção Científica e esta só apareceu em força na segunda metade da década de 1980. Este facto deve-se a vários factores, mas o principal será sem duvida o Prémio Editorial Caminho de Ficção Científica. Infelizmente estes autores (e a própria FC) nunca conseguiram chegar ao grande publico e extravasar para além do gueto a onde ainda hoje se encontra. Mas os autores que conseguiram vencer estas adversidades todas tornaram-se grandes, pelo menos neste gueto e tem a obra que o comprova. 





Se Acordar antes de Morrer de João Barreiros - João Barreiros é o maior autor de FC Português vivo e mesmo depois de morrer vai continuar a ser pois ainda ninguém conseguiu chegar perto da sua genial escrita e da produção, mais ou menos continua, que tem mantido ao longo de mais de trinta anos de carreira e apesar de adorar o que o escreve escrevo isto com tristeza pelas razões óbvias. Terrarium será sem sombra para duvidas a sua obra mais conhecida e elogiada, considerado por muitos como a melhor obra de FC da Língua Portuguesa, escrita em conjunto com Luís Filipe Silva. A sua escrita tem como marcas o humor negro, o sarcasmos e um desapego pela esperança, alias suspeito que esperança é uma palavra que não consta do seu dicionário. Quanto à forma de escrever prefere o conto e as noveletas.
Dos muito poucos livro que se encontram no mercado destaco o seu ultimo: "Se Acordar Antes de Morrer". É a compilação de muitos contos e noveletas que estavam espalhados pelo ai. Acho uma boa escolha pois dá uma perspectiva bastante abrangente da sua carreira. Já falei dele e podem (voltar) a ler neste link: Opinião - Se Acordar Antes de Morrer de João Barreiros




O Futuro à Janela de Luís Filipe Silva - Com apenas vinte e um anos anos Luís Filipe Silva ganhou o Prémio Editorial Caminho de Ficção Científica em 1991 com a obra "O Futuro à Janela". A sua obra não se esgotou aqui, continuou com "Galxmente" ("A Cidade da Carne" e "Vingança"). Como acontece com o João Barreiros (com quem colaborou) muita das suas obras encontra-se em forma de conto e de noveletas e claro espalhadas por ai. Se com o João Barreiros a esperança não existe no que já li do Luís existe sempre um nota positiva nos seus trabalhos o que é bastante agradável, pelo menos para mim.
Dos (ainda menos) livros que se podem encontrar eu aconselho "O Futuro à Janela" não só por ser uma obra premiada, mas porque é um belo livro para se ler. O outro aspecto é que num acto de altruísmo sem paralelo o autor colocou-o a disposição de todos no formato pdf e grátis neste link: O Futuro à Janela de Luís Filipe Silva, revisto e com uma das mais belas introduções que já li. Aconselho ainda uma visita ao se site o TecnoFantasia onde poderão encontrar este e mais contos seus e de outros autores.




As Atribulações de Jacques Bonhomme de Telmo Marçal - Se existe um autor que se tem "escondido" das luzes da ribalta será Telmo Marçal pois pouco, para não dizer nada, se sabe dele, excepto que tem neste "As Atribulações de Jacques Bonhomme" uma excelente cartão de visita. Na verdade é uma antologia que reuniu um conjunto de contos previamente publicados em varias revista e sites e em vários formatos, à imagem de  "Se Acordar Antes de Morrer" do João Barreiros. Mas as parecenças não ficam por aqui. Também com Telmo Marçal não há esperança, nos seus contos a cor é cinza quando não é mesmo negra. Depois de ler "As Atribulações de Jacques Bonhomme" a minha esperança num autor que pegasse no manto do João Barreiros teve novo alento, mas infelizmente nunca mais li ou vi nenhum escrito dele fosse onde fosse. Ficou este livro que agora está a um preço irrisório, aproveitem.




A Saga Alex 9 de Bruno Martins Soares - Começou por ser uma trilogia publicada sob um pseudónimo, Martin S. Braun, na extinta colecção TEEN da Saída de Emergência (mas só publicaram os dois primeiros volumes) e acabaram por publicar um só volume na colecção Bang! já sob o nome verdadeiro do autor, Bruno Martins Soares. Ainda não li este livro, e não foi por falta de insistência de muitos amigos e boas opiniões que já li, mas nunca aconteceu (eu sei, eu sei...). A história mistura Ficção Científica e Fantasia, mostrando que os dois géneros conseguem não só conviver, mas também unir-se (embora me parece ser mais(?) FC....). É um autor novo (no panorama editorial) e que fez bastante sucesso junto dos leitores. Coloco cá este livro por sugestão do amigo Fiacha. 



Z de Manuel Alves - Não podia deixar de fora o autor que para mim carrega aos ombros a nova FC Portuguesa: Manuel Alves. Ele tem sido um autor tão falado aqui no blog que acho quase redundante dizer seja o que o for, mas vou tentar para os que ainda não o conhecem. É um autor de grande talento e que ainda está a começar a sua carreira por isso é de esperar que ainda vá melhorar mais. Dos vários contos de FC que já li destaco aquele que foi a minha porta de entrada na sua obra: Z, embora qualquer um pudesse aqui estar. Podem encontrar a minha opinião deste conto neste link: Opinião - Z de Manuel Alves e se ficaram curiosos podem também encontrar este conto completamente grátis neste link: Z de Manuel Alves.



Chega ao fim esta serie de "Uma (possível) Iniciação à Ficção Científica". Espero que tenham gostado, mas também que tenha sido útil para compreender melhor o que é a Ficção Científica e como ela é vasta nos temas e autores. Espero também que leiam alguns dos livros que destaquei e gostem. Fica prometida uma nova incursão pelo mundo da FC um dia deste, até lá boas leituras de FC. 

4 comentários:

  1. Viva Marco,

    Nada melhor do que deixar para o fim a FC nacional e sem duvida que deixas excelentes sugestões de leitura.

    Sem duvida que gostei muito de Alex 9 um livro que fartei-me de recomendar, Barreiros tenho por ler, a ver se encontro Terrarium, Luís Silva estou maravilhado com o trabalho que fez na Antologia Pulp Fiction que estou a ler atualmente, o amigo Manuel Alves não li FC mas é um talento sem duvida.

    Obrigado pela partilha deste teu excelente trabalho, tentarei divulgar a FC sempre que tiver oportunidade, pois só assim se pode mudar a situação existente em relação a este género.

    "Fica prometida uma nova incursão pelo mundo da FC um dia deste, até lá boas leituras de FC."

    Acho muito bem ;)

    Abraço

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    1. Olá Corvo

      Para o fim fica o melhor ;)

      Eu tenho de ler o Alex 9 e tu o Barreiros, mas se encontrares o Terrarium eu vou to roubar tal a preciosidade que ele e que eu ainda não tenho e que nunca vi. O sem duvidas que o Luís Filipe Silva fez um magnifico trabalho na Antologia Pulp Fiction, mas o seu "O Futuro à Janela" é também um grande livro. Quanto à FC do Manuel só não leste por preguiça :P são contos curtos e tu já sabes da qualidade dele.

      Só remando todos para o mesmo lado é que podemos mudar esta situação.

      Em breve cá volto

      Um abraço

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  2. Olá Marco
    Pegando pelo fim da tua série de Iniciação à FC, deixa-me dizer que pela minha parte gostei bastante e como sei que ainda te irei ouvir falar bastante de FC, parece bem dizer: "até um dia destes" e não referir mais nada para além de te dar os parabéns pela compilação e apresentação de um conjunto de livros para todos os gostos dentro da FC.
    Quanto aos autores portugueses, confesso que ainda só li dois contos do João Barreiros (falta minha eu sei) e o Manuel Alves.
    Já tenho o pdf do Luís Filipe Silva, mas ainda não o li.
    Pena que o João Barreiros seja tão "sem esperança" nos seus escritos e tão amargo por vezes! Mas cada um é como é.

    Mais uma vez obrigada pela partilha e conselhos
    Bjs

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  3. Olaré, Marco. :)
    És um fixola, por me incluíres no lote de escritores portugueses que “escrevem FC da boa” (uso palavras tuas, para não soar a completo elogio em nome próprio :D ). A questão da prevalência dos autores de língua inglesa é incontornável. No meu entender (e, presumo, no de quem tiver o bom senso apurado por leitura suficiente), a notoriedade de muitos autores que escrevem em inglês deve-se principalmente ao facto de essa ser a língua que domina o mercado literário em todo o mundo. Acredito que se muitos desses autores fossem portugueses, nascidos em Portugal e a escrever em português, dificilmente alguém ouviria falar deles porque nem sequer teriam sido publicados. Daí que autores estrangeiros (de língua inglesa ou outra qualquer) não sejam sinónimo de qualidade; quando muito, serão cartazes de popularidade (duas coisas confundidas com frequência). Nas mesmas circunstâncias, se a língua portuguesa ocupasse o lugar dominante, muito provavelmente, haveria bastantes nomes de autores lusófonos nas capas de bestsellers (naturalmente, uns com todo o mérito e outros apenas a aproveitar a boleia da língua).
    A questão do papel das editoras na divulgação de autores portugueses (em qualquer género literário)? As editoras têm de ganhar dinheiro para poder publicar, e têm de publicar para poderem ganhar dinheiro. É o círculo vicioso do sistema comercial que, infelizmente, exclui à partida obras nacionais com potencial qualidade e valor comercial. É o risco financeiro e não a oposta qualitativa que tem a última palavra na decisão de publicar um livro (na minha perspectiva presente do mercado editorial).
    Se as editoras deviam arriscar mais fora dos nomes consagrados, no território quase proibido de autores recentes? Mais? Bem, já seria um quase milagre se simples arriscassem. Mesmo a recentes apostas de dois grandes grupos editoriais portugueses em (pseudo) plataformas de autores independentes/novos/desconhecidos procuram explorar essa porta de entrada para novos nomes com objectivos onde o mero interesse financeiro parece sobrepor-se ao simples bom senso. Essas apostas em autores novos (apenas publicação digital) não acarretam os mesmos riscos financeiros inerentes aos livros físicos e, ainda assim, o negócio (como de costume) parece especificamente pensado para explorar autores e sacar aos leitores quantias quase próximas das que pagam por livros físicos. A partir de um certo limite, o absurdo transcende os milites do ridículo.
    O que tem isto que acabei de escrever a ver com FC? Ora, os autores precisam de leitores e os leitores precisam de autores. Apesar da explosão de autores independentes no mercado digital, as editoras ainda têm papel fundamental como intermediárias dessa relação. Se apresentam aos leitores sempre os mesmos autores (ainda que sejam bons), os leitores nunca conhecerão autores novos (igualmente bons ou melhores).
    O que aconteceu ao Prémio Editorial Caminho de Ficção Científica? Eu gostaria que ainda existisse e de participar (isto é, se alguma mente iluminada não decidisse, como é costume, que a criatividade tem de ser confinada até uma certa idade e, daí, estabelecer limite etário para os participantes).

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