domingo, 10 de janeiro de 2021

Opinião - As Crónicas de Allaryia - Volume 1 - A Manopla de Karasthan de Filipe Faria

 

Capa Original com arte de Samuel Santos

Existem livros que nos marcam e se tivesse de escolher um seria sem duvida "A Manopla de Karasthan" do Filipe Faria.


Lançado em Abril de dois mil e dois este livro marcou o inicio de uma Era, não só pessoal, mas principalmente na literatura nacional. Longe iam os dias áureos das colecções de Ficção Científica, como a de Livros Azuis da Caminho ou a Nébula da Europa-America, colecções moribundas que morreriam pouco tempo depois. É então que a editora Presença decide lançar duas colecções quase seguidas: a Viajantes no Tempo em Julho de dois mil e dois, uma colecção de Ficção Científica com grandes nomes do género e que tentou também lançar nomes portugueses e claro a Via Láctea do qual este foi o seu primeiro titulo. “A Manopla de Karasthan” trazia consigo o prestígio do Prémio Branquinho da Fonseca de Literatura Juvenil instaurado pelo Jornal Expresso e pela Fundação Calouste Gulbenkian e isso talvez explique o risco de começar um nova colecção com o primeiro livro de autor completamente desconhecido (algo que hoje é quase impensável).


A nova capa, sem personalidade e se originalidade 



Vamos ao livro e comecemos por tirar o óbvio do caminho: é este o melhor livro do mundo? Não. Este livro é uma carta de amor ao género escrito por um jovem adolescente com tudo o que isso implica. A inspiração, para não ir mais longe, são autores e livros como Tolkin e o seu Senhor dos Anéis ou a saga Dragonlance de Tracy Hickman e Margaret Weis e outras influencias como Dungeons & Dragons ou Magic the Gathering. Está lá tudo, as raças, mesmo que com outros nomes, a viagem do(s) herói(s). Enfim todos os clichés que tanto adoramos e simultaneamente odiamos. Este livro é quase uma fanfic. Ao reler este livro agora pela quinta ou sexta vez dou por mim a pensar que esta ou aquela passagem podia ser mais clara e com menos palavras, mas teria eu feito melhor com quinze ou dezasseis anos? Não e não sei se o faria agora (não, não o faria). E é isto que muitos esquecem quando lêem o livro. Quando foi lançado, este livro e o seu autor foram alvo de muito ódio, foram ditas e escritas coisas que ainda hoje me provocam confusão. Mas apesar de tudo isto este livro foi o ponto focal de uma nova geração de autores portugueses. Algo semelhante ao efeito Harry Potter, mas este era nosso, era Português e se ele o podia fazer porque não eu? E para mim mais que a ingenuidade da escrita, dos clichés e de tudo que possam apontar de negativo ao livro o facto de ter servido de inspiração a tantos de nós, leitores e escritores, justifica por si só a sua publicação. No momento em que li este livro tivesse eu lido outro livro, como “O Senhor dos Anéis” teria ele me inspirado a ler mais como “A Manopla de Karasthan” fez? Não sei e nunca irei saber, mas gosto de pensar que sim, que foi o livro certo no momento certo para me tornar o leitor que sou hoje. É o livro que pais, tios ou simplesmente amigos dão de prenda a uma nova geração de leitores na expectativa que tenha neles o efeito que teve em quem ofereceu (na feira do livro do Porto assisti a um caso destes). Eu espero o dia em possa dar a conhecer este livro (e seguintes claro) à minha sobrinha e ver nela o que eu senti quando o li pela primeira vez. E este é talvez o maior elogio que eu possa fazer, ter gostado e ter me marcado tanto que o quero partilhar com a próxima geração. 


Se estão à procura de um livro que possa agradar a uma nova geração este pode ser o livro ideal, mas se vocês já são leitores “velhos” como eu então é provável que vejam mais os seus defeitos do que as suas virtudes apesar de alguns conseguirem perceber o porquê do seu sucesso e do carinho com que fãs como eu falam dele.


E antes que comecem a pensar o pior posso desde já garantir que os livros seguintes melhoram muito, mesmo muito, mas mesmo muito e nada fica a dever ao autores estrangeiros que são a primeira escolha das editoras portuguesas, o que é uma pena.


A arte do Samuel Santos em todo o seu esplendor



Podem odiar ou amar, mas não podem negar o lugar que este livro tem na História da Literatura Nacional.

Bem sei que não falei da história, mas não me dou a sinopses e se chegaram aqui é porque já a conhecem, quis falar do quanto o livro significa para mim e para tantos outros e talvez no processo aguçar-vos a curiosidade para ler ou dar a ler. Espero ter conseguido pelo menos umas das duas.

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